O processo iniciado por Felipe Massa em busca do reconhecimento como campeão da temporada 2008 da Fórmula 1 pode abrir um precedente na categoria.
A opinião é de Toto Wolff, chefe de equipe da Mercedes. Em entrevista coletiva nesta sexta-feira (15), o dirigente disse ter ficado surpreso com a iniciativa do brasileiro, e se mostrou disposto a acompanhar o caso com atenção - mas não comentou a respeito de outros possíveis questionamentos.
“Bem, é interessante de se acompanhar. Claramente é algo que ninguém esperava”, afirmou.
“As regras são bastante claras na Fórmula 1. Há um processo civil por trás? Isso certamente estabelece um precedente, qualquer que seja. Estamos observando por fora, com curiosidade”, acrescentou.
O título daquela temporada foi conquistado por Lewis Hamilton pela McLaren. A equipe britânica, por sua vez, também não participa diretamente da ação movida por Massa até aqui.
“Obviamente, foi bem antes do meu tempo. Eu estava na corrida e não fomos contatados”, disse Zak Brown, CEO da McLaren, no cargo desde 2018.
“É a primeira vez que alguém me pergunta sobre isso, então isso não envolve a McLaren atual. Estou um pouco surpreso por isso ter vindo à tona. Não tenho certeza sobre o que motivou (Massa), mas vamos esperar e ver como isso se desenvolve”, completou.
Singapuragate: entenda o caso
A história começa em 28 de setembro de 2008, no Grande Prêmio de Singapura daquele ano. Lewis Hamilton (McLaren) e Felipe Massa disputavam a liderança da temporada, com vantagem de um ponto para o britânico: 78 a 77.
Massa foi pole position em Singapura e liderava com boa margem até a volta 14, quando Nelsinho Piquet (Renault) rodou sozinho, bateu e provocou a entrada de um safety car. Os pilotos aproveitaram para entrar nos boxes. Fernando Alonso (Renault), que havia entrado nos boxes antes do acidente, levou a melhor e assumiu a liderança.
No fim, Alonso venceu a corrida, com Hamilton em terceiro. Massa teve problemas com uma parada nos boxes e terminou em 13º, sem pontuar. No fim do ano, o britânico foi campeão com um ponto de vantagem (98 a 97) para o rival da Ferrari.
No ano seguinte, veio à tona a informação de que o acidente de Nelsinho Piquet foi proposital para favorecer Fernando Alonso. Vários envolvidos foram punidos, e Nelsinho encerrou sua trajetória na Fórmula 1.
Em entrevista ao site F1 Insider no primeiro semestre de 2023, Bernie Ecclestone, ex-CEO da Fórmula 1, afirmou que a categoria sabia dos detalhes a respeito do acidente do GP de Singapura ainda em 2008, mas optou por não tomar medidas para evitar um desgaste da categoria. Mais tarde, o dirigente disse não se lembrar das declarações da entrevista.
“Decidimos não fazer nada, queríamos proteger a F1 e salvá-la de um escândalo. Havia uma regra que dizia que a posição de um campeão mundial era intocável após a cerimônia de premiação da FIA (Federação Internacional de Automobilismo). Assim, Hamilton recebeu a taça e tudo ficou bem. Mas tínhamos informações suficientes naquele momento para investigar o assunto. Segundo o regulamento, devíamos ter anulado a corrida em Singapura por essas condições”, afirmou.
Pouco depois, Massa anunciou a intenção de levar a decisão da temporada 2008 aos tribunais. Em agosto, amparado por advogados, o piloto brasileiro enviou uma carta à FIA (Federação Internacional de Automobilismo) e à F1 para anunciar a intenção de ajuizar o caso. O envio da carta é um ato obrigatório para que as autoridades britânicas abram processos do tipo, simbolizando um aviso às partes envolvidas.
A FIA tinha até 8 de setembro para se manifestar, mas os dois lados concordaram em prorrogar o prazo até 12 de outubro. Os advogados de Massa pediram ainda que tanto a Ferrari quanto a Alpine (sucessora da Renault na F1) preservem documentos, e esperam contar com o apoio do próprio Hamilton na defesa do caso.
E Hamilton? Questionado a respeito em agosto, esquivou-se. “Honestamente, eu não estou muito por dentro. Eu vi algumas manchetes na imprensa, mas não é algo que eu esteja focado no momento. Eu estou focado na temporada atual, focado em fazer o melhor trabalho possível. Estou tentando não gastar muita energia com isso, porque eu realmente não sei do que se trata e até onde isso vai”, afirmou.