Na última terça-feira (10), a nova ministra dos Esportes, Ana Moser, roubou a cena ao falar do crescimento dos jogos eletrônicos competitivos - os e-sports - e o enquadramento deles como esportes no novo governo Lula.
No UOL entrevista, a ex-atleta, medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, disparou:
“A meu ver, o esporte eletrônico é uma indústria de entretenimento, não é esporte. Então, você se diverte jogando videogame, se divertiu. Ah, mas o pessoal treina para fazer. Treina como o artista. Eu falei esses dias, a Ivete Sangalo também treina para dar show e ela não é atleta da música.”
Pronto. Era o que precisava para a polêmica mobilizar com força discussões e provocar a reação do mercado brasileiro de games.
E-sports no Senado
Não que seja absolutamente uma novidade, afinal o debate está desde 2017 em pauta no Senado Federal, com ampla atuação de grupos para que a Lei Geral do Esporte não deixe no texto o conceito de esporte amplo a ponto de permitir a inclusão dos games a nível federal.
Vale lembrar que enquanto não há apreciação final dos pares pelo texto, o país ainda não possui lei que encerre a discussão e defina o que é esporte.
O que decide, também, o fomento de mais investimentos públicos e parcerias público-privadas.
Em agosto, antes de eleito, o presidente Lula ressaltou à importância dos jogos eletrônicos no aspecto econômico e cultural. Ainda que justo seja dizer que não declarou em qual pasta destinaria a adequação de políticas públicas dos games.
Sem definição governamental e documento com força de lei contemplado, conceitos ideológicos ou de análise pessoal são pouco decisivos para tomadas de decisões. Sobram então resoluções das principais entidades internacionais, principalmente pela relevância que a entrada no programa olímpico significaria.
E-sports e o mundo olímpico
E o que diz então a carta olímpica, o conjunto de regras e guias para os Jogos Olímpicos?
Claro que se trata de um documento “vivo”, em constante alteração, mas é preciso compreender que é uma regulamentação estabelecida em 1894 por Pierre de Coubertin, o fundador das Olimpíadas.
Por meio dela, o caminho para virar uma atividade olímpica, antes mais burocrático, agora considera:
- respeitar o Movimento Olímpico (incluir a ética, liderar a luta contra o doping e se opor a abusos contra os atletas);
- ter uma federação internacional e organização para difundir o esporte dentro dos conceitos olímpicos;
- ter prática de homens em pelo menos 75 países e mulheres em pelo menos 40 países
Xadrez é esporte ou atividade olímpica?
O entrave é que a própria carta olímpica estabelece que estão excluídas competições que sejam essencialmente cerebrais ou que dependam de propulsão mecânica – alguns esportes como xadrez e automobilismo, assim, não são esporte olímpicos. E há a propriedade de algumas disputas por parte de empresas, como não acontece com a maioria dos esportes.
Desde a última década – também por questões comerciais – o COI moderniza sua agenda, permitindo que alguns países-sede incluam esportes sem os caminhos tradicionais. Mas apenas na edição em voga, de forma temporária. Claro que isso considera por parte da nação aspectos como a competitividade local da modalidade e interesse público. E não é um programa definitivo.
Assim, potencial mercadológico bombástico que tenha, a ideia de jogos eletrônicos como esportes de forma regulamentada por força de lei no país é incerta. Como consequência, a trilha até os Jogos Olímpicos, por enquanto, vai depender da vontade de cada sede e do COI.
Por enquanto, a competição segue somente nas discussões intermináveis do tema.