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Dia Internacional da Mulher: ‘Menopausa abre portas e faz ressignificar a vida’

Muitas vezes vista como um ‘fim’, o encerramento da vida reprodutiva pode se tornar um momento de cuidado feminino

Por Luiza Lemos

Dia Internacional da Mulher: ‘Menopausa abre portas e faz ressignificar a vida’
Rosângela já passou pela menopausa e hoje, aconselha a filha de 45 anos
Reprodução/Brasil Urgente

Ondas de calor, alterações no sono e menstruação irregular são alguns dos sintomas físicos mais frequentes na menopausa. Mas muito além do físico, o psicológico de muitas mulheres é afetado no fim da vida reprodutiva, já que a menopausa é parte do processo de envelhecimento feminino e muitas vezes há quem pense que este é o fim da vida. 

Aos 38 anos, Rosângela Marcondes sentiu os primeiros sintomas de uma menopausa precoce, como dores de cabeça, crises e percebia algumas mudanças corporais. Com dúvidas, ela foi até um médico, que a recomendou uma reposição hormonal. “Não me convenci, fiquei até com medo. Mas fui até um homeopata amigo meu, que me questionou se eu estava disposta a pagar a conta de parar de menstruar tão cedo. Ele me disse: ‘você vai enfrentar algumas disfunções, mas vai sobreviver’. Então preferi pagar a conta”, diz. 

“Ao entender que era um processo natural, que teria dias melhores e piores, vi que teria que me cuidar, entender minhas rugas, minhas dores e mudanças e assim continuei a vida sem sofrer tanto com as mudanças da menopausa”, avalia. 

Para Rosângela, hoje com 68 anos, foi este momento que a fez parar e pensar nela mesma. “Vamos tanto no automático e de repente o corpo grita, pede atenção. A menopausa te dá um momento de pedir socorro, de mimo, de se entender e se permitir”, afirma. 

Cristiane Pertusi, psicóloga, psicoterapeuta e mulher que está passando pelo período da menopausa aos 51 anos, explica que a transição para a maturidade pode intensificar aspectos do comportamento da mulher. “A menopausa já traz as mudanças hormonais, o que é um agravante no envelhecimento, já que eles também afetam o psicológico. Se a mulher é ansiosa, por exemplo, isso é intensificado”, diz. 

A psicóloga também conta que há mulheres que passam pela menopausa com distúrbios do sono, falta de energia, irritabilidade e até ocorre um maior pessimismo. “Seja pela queda do estrogênio, seja pelo momento de vida que ela passa, a mulher muitas vezes fica com uma visão de mundo pessimista, principalmente as que têm tendência a ter esse comportamento negativo e até sem filtro do que falar ou pensar”, avalia. 

“A menopausa, ainda para algumas mulheres, é um baque de entender a finitude da vida”, afirma.

Quais os principais sintomas físicos da menopausa?

Além do psicológico, afetado pelo processo do fim do ciclo reprodutivo, muitas mulheres têm sintomas físicos. Maurício Simões Abrão, ginecologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, explica que as mudanças hormonais também podem trazer outros transtornos. 

“Muitas podem ter osteoporose, aumento do risco de doenças cardiovasculares, alterações na distribuição de gordura corporal, levando a um maior risco de obesidade, especialmente na região abdominal, e mudanças na pele e cabelos”, lista. 

O ginecologista aponta que essas mudanças podem afetar a autoestima e até a vida sexual da mulher, além dos distúrbios noturnos. “Há aquelas que experimentam problemas de concentração e memória, que podem ser atribuídas às mudanças hormonais ou do sono, impactando a qualidade de vida e o humor”, avalia. 

‘Síndrome do ninho vazio’ pode potencializar efeitos da menopausa

Nesse turbilhão de emoções, há também as dúvidas sobre o envelhecimento. Muitas vezes há mulheres que pensam que a função delas na vida, e até na família, tenha acabado ali, entre os 40 e 50 anos. Principalmente pelo momento de encerramento de ciclos, como a mudança dos filhos de casa, a aposentadoria e até o luto. 

“Nesse processo muitas mulheres ficam viúvas, ou se separam, ou se aposentam. Então, há na menopausa uma necessidade de ressignificar a vida e de encontrar propósito”, explica Cristiane Pertusi. 

“Há quem pense que não é mais uma boa mãe, ou que é desnecessária, mas é possível vier outras coisas além da maternidade, além do casamento, além do trabalho”, indica a psicóloga. 

Por isso, a psicóloga indica que a menopausa pode ser o fim do período fértil, como procriadora, mas não é o fim dos outros papéis. “Temos sonhos, propósitos, digo que temos que procurar algo a mais, uma nova cereja no bolo até o fim da vida”, diz. 

Rosângela Marcondes, que tem uma filha de 45 anos, já a aconselha sobre essa sensação que a menopausa traz. “Enquanto ela começa a pensar nessa transição, eu já estou esquecendo, passando pela velhice. Então eu já falo para ela: ‘Olha, mamãe tá aqui, sobreviveu, assim como todos os anos”, diz.

‘A menopausa abre um portal de oportunidades’

Menopausa e maturidade fez Rosângela enxergar novos horizontes | Reprodução/Instagram/it_avo

Apesar do fim do ciclo reprodutivo ser entre os 50 anos, muitas mulheres ainda têm quase 30 anos para viver, já que a expectativa de vida das brasileiras é de 79 anos, segundo o último Censo do IBGE de 2022. Por isso, a influenciadora Rosângela vê a menopausa e a entrada na maturidade como uma abertura para novas oportunidades. 

“Antes a vida era muito limitada para as mulheres, o horizonte era pequeno. Por isso, minha mãe, minhas tias entendiam que a vida acabava ali. Agora, enquanto vejo os filhos ocupados, tendo vida, cuidado dos próprios filhos e eu, tendo tempo, penso nas minhas próprias vontades, hobbies. Ainda tenho mais 20, 30, 40 anos pela frente”, explica. 

O período da menopausa e da entrada na terceira idade, apesar de desafiador, pode ser um momento de renascimento para a mulher. Cristiane Pertusi avalia que, para muitas, é preciso resgatar aquela menina esquecida na fase adulta. 

“Acho que toda mulher deveria buscar a energia da sua menina interna, quase como um ressurgir de fênix. Podemos ser uma grande fênix, nos conhecer de novo e ver que é possível uma vida após a menopausa”, avalia. 

O exercício de se reconhecer durante a menopausa também traz a oportunidade de ressignificar a vida, segundo Cristiane Pertusi. “O momento é de entender a menopausa, enxergar o valor da vida. É importante redefinir a rota. É preciso fazer o balanço do que se quer, do que não quer e, por mais que seja dolorido, é preciso enfrentar a mudança”, indica. 

Por isso, Pertusi indica que, para muitas que têm dúvidas neste momento de transição, ouvir as próprias vontades pode aliviar a pressão da menopausa. “Você tem outros propósitos, procure algo que te mova, seja um hobby, uma atividade cultural, uma curiosidade, um trabalho voluntário. A nova vida só é possível quando a pessoa olha para si, sem ficar buscando uma resposta por fora, sem ter olhado para dentro”, indica. 

Foi assim que Rosângela começou a página que hoje tem mais de 150 mil seguidores do Facebook e uma página de 10 mil seguidores no Instagram. “Parei de trabalhar mesmo com 58 anos, me senti em um buraco, sem filhos, sem nada. Minha filha me inspirou a fazer um blog para me ocupar e, em pouco tempo, conquistei meu espaço nas redes”, conta. 

Graças à página, Rosângela abriu outra oportunidade em meio à menopausa: ela faz encontros com outras mulheres, viaja com amigas e compartilha de vivências com amigas e seguidoras. Este tipo de ação, para o ginecologista Maurício Simões Abrão, é muito importante nesse período de menopausa. 

“É preciso encorajar as pacientes a manter uma rede de apoio social, participar de grupos de suporte, e compartilhar experiências pode também proporcionar conforto e compreensão durante este período de transição”, afirma o ginecologista, que pontua que ter comunicação aberta sobre sentimentos e preocupações também é essencial. 

Para Rosângela, a página e a vida agitada é uma forma de honrar a vida, mesmo após o fim da vida reprodutiva. “Preciso desempenhar minhas funções, corresponder às expectativas das pessoas, então levo tudo com esse olhar de honrar a vida”, afirma. 

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