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Na ONU, Bolsonaro defende tratamento ineficaz contra Covid e diz que não há "caso concreto de corrupção" no Brasil

Presidente defendeu medidas ambientais adotadas pelo governo e tentou reforçar a imagem do país para atrair investidores para leilões

Da Redação

Em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendeu o tratamento precoce ineficaz contra a Covid-19 e afirmou que “estamos há 2 anos e 8 meses sem qualquer caso concreto de corrupção”.

“Não entendemos porque muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial. A história e a ciência saberão responsabilizar a todos”, afirmou Bolsonaro em seu discurso --apesar de a ciência comprovar que o chamado tratamento precoce contra a Covid-19 é ineficaz.

O pronunciamento tocou em diversos pontos para tentar atrair investimentos em meio ao cenário econômico atual. Bolsonaro defendeu as medidas sociais, econômicas, sanitárias e ambientais adotadas por seu governo até aqui. 

Na cerimônia, Bolsonaro voltou a criticar a imprensa e afirmou que o Brasil não teve “casos concretos de corrupção” durante os últimos dois anos e oito meses, com um presidente que acredita em Deus e que valoriza a família tradicional.

Segundo o presidente, o País estava “à beira do socialismo” e tinha bancos públicos financiando obras “em países comunistas, sem garantias”. Jair Bolsonaro destacou a privatização de aeroportos e a retomada do modelo ferroviário de transporte como forma de diminuir o consumo de combustíveis fósseis. 

Segundo ele, o Brasil tem hoje "tudo o que o investidor procura: um grande mercado consumidor, excelentes serviços, respeito aos contratos e confiança no nosso governo". 

O presidente mencionou ainda o leilão do 5G que deve ser realizado no País - e que hoje é alvo da disputa entre China e Estados Unidos.

Meio ambiente e agricultura

Jair Bolsonaro destacou ainda que "nenhum país do mundo tem legislação ambiental tão completa quanto a nossa". Sem citar fontes, afirmou que houve redução no desmatamento da Amazônia. 

O presidente do Brasil alegou ainda que 83% da nossa energia é advinda de fontes renováveis, aproveitando para cobrar os demais líderes sobre o cumprimento de acordos para a redução da emissão de carbono. 

Bolsonaro ainda afirmou que o Brasil vem tomando medidas na área ambiental, ao mesmo tempo em que fornece alimentos para 1 bilhão de pessoas com “nossa moderna e sustentável agricultura”.

Pandemia

A pandemia do novo coronavírus ainda foi ponto central nos discursos do dia na ONU. Bolsonaro voltou a criticar as medidas de isolamento social, e culpou prefeitos e governadores pelos impactos econômicos resultados dos casos da Covid-19 no País.

“A pandemia pegou todos de surpresa em 2020. Lamentamos todas as mortes no Brasil e no mundo. Sempre defendi combater o vírus e o desemprego, de forma simultânea e com a mesma responsabilidade”, afirmou.

O discurso se mostrou desalinhado aos do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres. Antes, o português citou diversas crises globais e defendeu medidas internacionais de saúde.

“Estamos enfrentando a maior crise de nossas vidas. A desigualdade veio à tona por conta da pandemia”, declarou Guterres. “A economia ajuda a poucos. Quando chega essa ajuda, falta solidariedade e falta ação, quando mais necessitamos.”

Guterres ainda lamentou o descarte de vacinas, “vencidas, sem uso”. “As vacinas foram desenvolvidas em tempo recorde. Uma vitória da ciência, da engenhosidade humana. Por outro lado, vemos falta de vontade humana”, afirmou também.

Por sua vez, Bolsonaro se posicionou contrário ao passaporte vacinal e mais uma vez defendeu o uso de medicamentos off label contra a Covid-19.

Em seu discurso, o presidente se colocou ao lado da “autonomia do médico na busca do tratamento precoce”. “Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial”, alegou.

Confira o discurso na íntegra:

Senhor Presidente da Assembleia-Geral, Abdulla Shahid,

Senhor Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, 

Senhores Chefes de Estado e de Governo e demais chefes de delegação,

Senhoras e senhores,

É uma honra abrir novamente a Assembleia-Geral das Nações Unidas. 

Venho aqui mostrar o Brasil diferente daquilo publicado em jornais ou visto em televisões. 

O Brasil mudou, e muito, depois que assumimos o governo em janeiro de 2019. 

Estamos há dois anos e oito meses sem qualquer caso concreto de corrupção.

O Brasil tem um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição e seus militares, valoriza a família e deve lealdade a seu povo.

Isso é muito, é uma sólida base, se levarmos em conta que estávamos à beira do socialismo.

Nossas estatais davam prejuízos de bilhões de dólares; hoje, são lucrativas.

Nosso Banco de Desenvolvimento era usado para financiar obras em países comunistas, sem garantias. Quem honra esses compromissos é o próprio povo brasileiro. 

Tudo isso mudou. Apresento agora um novo Brasil com sua credibilidade já recuperada.

O Brasil possui o maior programa de parceria de investimentos com a iniciativa privada de sua história. Programa que já é uma realidade e está em franca execução.

Até aqui, foram contratados US$ 100 bilhões de novos investimentos e arrecadados US$ 23 bilhões em outorgas.

Na área de infraestrutura, leiloamos, para a iniciativa privada, 34 aeroportos e 29 terminais portuários. 

Já são mais de US$ 6 bilhões em contratos privados para novas ferrovias. Introduzimos o sistema de autorizações ferroviárias, o que aproxima nosso modelo ao americano.

Em poucos dias, recebemos 14 requerimentos de autorizações para novas ferrovias com quase US$ 15 bilhões de investimentos privados.

Em nosso governo, promovemos o ressurgimento do modal ferroviário. Como reflexo, menor consumo de combustíveis fósseis e redução do custo Brasil, em especial no barateamento da produção de alimentos. 

Grande avanço vem acontecendo na área do saneamento básico. O maior leilão da história no setor foi realizado em abril, com concessão ao setor privado dos serviços de distribuição de água e esgoto no Rio de Janeiro. 

Temos tudo o que investidor procura: um grande mercado consumidor, excelentes ativos, tradição de respeito a contratos e confiança no nosso governo. 

Também anuncio que nos próximos dias, realizaremos o leilão para implementação da tecnologia 5G no Brasil.

Nossa moderna e sustentável agricultura de baixo carbono alimenta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo e utiliza apenas 8% do território nacional.

Nenhum país do mundo possui uma legislação ambiental tão completa. Nosso Código Florestal deve servir de exemplo para outros países. 

O Brasil é um país com dimensões continentais, com grandes desafios ambientais. 

São 8,5 milhões de quilômetros quadrados, dos quais 66% são vegetação nativa, a mesma desde o seu descobrimento, em 1500.

Somente no bioma amazônico, 84% da floresta está intacta, abrigando a maior biodiversidade do planeta. Lembro que a região amazônica equivale à área de toda a Europa Ocidental.

Antecipamos, de 2060 para 2050, o objetivo de alcançar a neutralidade climática. Os recursos humanos e financeiros, destinados ao fortalecimento dos órgãos ambientais, foram dobrados, com vistas a zerar o desmatamento ilegal. 

E os resultados desta importante ação já começaram a aparecer. Na Amazônia, tivemos uma redução de 32% do desmatamento no mês de agosto, quando comparado a agosto do ano anterior. 

Qual país do mundo tem uma política de preservação ambiental como a nossa? 

Os senhores estão convidados a visitar a nossa Amazônia.

O Brasil já é um exemplo na geração de energia com 83% advinda de fontes renováveis.

Por ocasião da COP-26, buscaremos consenso sobre as regras do mercado de crédito de carbono global. Esperamos que os países industrializados cumpram efetivamente seus compromissos com o financiamento de clima em volumes relevantes.

O futuro do emprego verde está no Brasil: energia renovável, agricultura sustentável, indústria de baixa emissão, saneamento básico, tratamento de resíduos e turismo.

Ratificamos a Convenção Interamericana contra o Racismo e Formas Correlatas de Intolerância. 

Temos a família tradicional como fundamento da civilização. E a liberdade do ser humano só se completa com a liberdade de culto e expressão.

Quatorze por cento do território nacional - ou seja, mais de 110 milhões de hectares, uma área equivalente a Alemanha e França juntas - é destinada às reservas indígenas. Nessas regiões, 600.000 índios vivem em liberdade e cada vez mais desejam utilizar suas terras para a agricultura e outras atividades. 

O Brasil sempre participou em Missões de Paz da ONU. De Suez até o Congo, passando pelo Haiti e Líbano.

Nosso país sempre acolheu refugiados. Em nossa fronteira com a vizinha Venezuela, a Operação Acolhida, do Governo Federal, já recebeu 400 mil venezuelanos deslocados devido à grave crise político-econômica gerada pela ditadura bolivariana.  

O futuro do Afeganistão também nos causa profunda apreensão. Concederemos visto humanitário para cristãos, mulheres, crianças e jovens afegãos.

Nesses 20 anos dos atentados contra os Estados Unidos da América, em 11 de setembro de 2001, reitero nosso repúdio ao terrorismo em todas suas formas. 

Em 2022, voltaremos a ocupar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. Agradeço aos 181 países, em um universo de 190, que confiaram no Brasil. Reflexo de uma política externa séria e responsável promovida pelo nosso Ministério de Relações Exteriores.  

Apoiamos uma Reforma do Conselho de Segurança ONU, onde buscamos um assento permanente. 

A pandemia pegou a todos de surpresa em 2020. Lamentamos todas as mortes ocorridas no Brasil e no mundo. 

Sempre defendi combater o vírus e o desemprego de forma simultânea e com a mesma responsabilidade. As medidas de isolamento e lockdown deixaram um legado de inflação, em especial, nos gêneros alimentícios no mundo todo. 

No Brasil, para atender aqueles mais humildes, obrigados a ficar em casa por decisão de governadores e prefeitos e que perderam sua renda, concedemos um auxílio emergencial de US$ 800 para 68 milhões de pessoas em 2020.

Lembro que terminamos 2020, ano da pandemia, com mais empregos formais do que em dezembro de 2019, graças às ações do nosso governo com programas de manutenção de emprego e renda que nos custaram cerca de US$ 40 bilhões. 

Somente nos primeiros sete meses desse ano, criamos aproximadamente 1,8 milhão de novos empregos. Lembro ainda que o nosso crescimento para 2021 está estimado em 5%.

Até o momento, o Governo Federal distribuiu mais de 260 milhões de doses de vacinas e mais de 140 milhões de brasileiros já receberam, pelo menos, a primeira dose, o que representa quase 90% da população adulta. 80% da população indígena também já foi totalmente vacinada. Até novembro, todos que escolheram ser vacinados no Brasil, serão atendidos.

Apoiamos a vacinação, contudo o nosso governo tem se posicionado contrário ao passaporte sanitário ou a qualquer obrigação relacionada a vacina. 

Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina.

Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial. Respeitamos a relação médico-paciente na decisão da medicação a ser utilizada e no seu uso off label.

Não entendemos porque muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial.

A história e a ciência saberão responsabilizar a todos. 

No último 7 de setembro, data de nossa Independência, milhões de brasileiros, de forma pacífica e patriótica, foram às ruas, na maior manifestação de nossa história, mostrar que não abrem mão da democracia, das liberdades individuais e de apoio ao nosso governo.

Como demonstrado, o Brasil vive novos tempos. Na economia, temos um dos melhores desempenhos entre os emergentes. 

Meu governo recuperou a credibilidade externa e, hoje, se apresenta como um dos melhores destinos para investimentos.

É aqui, nesta Assembleia Geral, que, vislumbramos um mundo de mais liberdade, democracia, prosperidade e paz. 

Deus abençoe a todos.

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