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Especialistas veem erro estratégico do Brasil na corrida pela vacina da Covid-19

Série mostra o Brasil na espera pela vacinação

Da Redação, com Jornal da Band

"O caminho da vacina": Série mostra o Brasil na espera pela vacinação
"O caminho da vacina": Série mostra o Brasil na espera pela vacinação
Reprodução TV

Pessoas estão sendo vacinadas em vários países, mas no Brasil ainda deve demorar pelo menos um mês para ter início a campanha. Na segunda reportagem da série "O Caminho da Vacina" (assista no vídeo acima), você vai entender o que provocou esse atraso.

Só nos Estados Unidos, mais de um milhão e duzentas mil pessoas já haviam sido vacinadas até o Natal. Outras três milhões e quinhentas mil doses foram aplicadas em cidadãos de pelo menos 10 países. Na América Latina, a vacinação começou pelo México, Chile e Costa Rica. O Brasil, como já se esperava, ficou para trás.

"Realmente, o Programa Nacional de Imunizações é exemplo para o mundo todo como lugar de vacinação pública. Não há igual no mundo, 35 mil salas de vacinações, pessoas treinadas e uma capacidade de logística e distribuição fora do comum, Chegamos a recônditos da Amazônia e do Pantanal, lugares inimagináveis de chegar... O problema é que precisamos de vacina e nós não temos vacina", explica Jorge Kalil, ex-diretor do Instituto Butantan e diretor do Incor.
 

Especialistas em vacinas acreditam que o Brasil cometeu um profundo erro estratégico nessa corrida mundial.
 

"Esse problema conjuntural, provocado pela falta de cabeça, de liderança no Ministério da Saúde, fez com que a gente tomasse essa decisão ruim, de ter apenas uma opção, de repente a única opção era a Astrazeneca, ministério não olhava para chinesa e nem tampouco para as outras duas vacinas que foram testadas aqui no Brasil pelo menos”, opina Gonzalo Vecina Neto, médico fundador da Anvisa.
 

Enquanto o Brasil colocou suas fichas apenas em uma possibilidade de sucesso, países que estão vacinando agora diversificaram suas apostas. Os Estados Unidos fecharam acordo com pelo menos 12 fabricantes diferentes. O Canadá tem estoque para vacinar sua população seis vezes.
 

“A covid destruiu a economia de vários países, o custo de uma vacina, mesmo que se compre 5 vezes o que se precisa, é irrisório tendo em vista o impacto econômico que causa essa doença. Então comprar cinco, seis vezes, mesmo que nós não usássemos, estaria barato porque retomaríamos a atividade econômica o mais rápido possível", justifica Kalil.

As apostas brasileiras na vacina de Oxford e da CoronaVac fazem sentido por questões logísticas. As vacinas no Brasil atendem a um padrão. Elas são armazenadas em temperaturas de 2 a 8 Cº em geladeiras espalhadas pela maioria dos postos pelo País. O problema é que vacinas em desenvolvimento não tem nunca a garantia de sucesso imediato. E há sempre a enorme possibilidade de erros, atrasos e até mesmo fracassos.

“Habitualmente, as primeiras vacinas não necessariamente serão as melhores porque, no desenvolvimento, você vai acertando, vai ajustando de acordo com os estudos. Então, as primeiras vacinas que vão ser licenciadas não necessariamente serão as mais eficazes. A gente espera que dê muito certo, mas de tudo o que a gente conhece sobre vacinas não é bem assim”, relata a média infectologista Rosana Richtmann.

A expectativa é de que os brasileiros comecem a ser vacinados em janeiro de 2021. Isso se a Anvisa aprovar o uso da CoronaVac, a vacina chinesa que está sendo produzida em parceria com o Butantan e que passará a ser produzida no Brasil no segundo semestre de 2021. 

A vacina da Oxford, da qual o país tem garantidas mais de 100 milhões de doses, teve problemas na fase final de avaliação e novos testes estão sendo realizados. Mas há outros problemas.

“Mas nunca é demais falar. Imagina os insumos de agulha e seringa que vai precisar para a população mundial. Nós não teremos uma vacinação em massa para todos ao mesmo tempo. Impossível isso acontecer. Tem que ser escalonada. Sei que o Ministério da Saúde está pensando nisso, quais são os grupos prioritários, por onde começamos, como fazer...”, diz a infectologista.

Para além de todos os problemas técnicos e estruturais, o presidente Jair Bolsonaro tem adotado um papel ambíguo. Muitas vezes dá a entender ser contra a vacina. Ainda assim, com tantas dificuldades, os cientistas brasileiros confiam na capacidade do país em enfrentar crises sanitárias. 

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