Jornal da Band

Conjuração Carioca: como a ciência contribuiu para a Independência do Brasil

No fim do século XVIII, a sociedade literária carioca, pautada no conhecimento científico, era uma das pedras nos sapatos da Coroa

Da redação

Eles se reuniam em clubes literários e em farmácias para discutirem liberdade e ciência. Era o começo de uma ideia de república no Brasil Colônia. No projeto da Band nos 200 anos da Independência, esta reportagem traz mais momentos históricos da Conjuração Carioca.

No fim do século XVIII, a sociedade literária carioca era uma das pedras nos sapatos da Coroa, quando o Brasil ainda estava sob o domínio de Portugal. A metrópole sempre desconfiou de intelectuais, a exemplo de médicos, botânicos, naturalistas, mineralogistas, poetas, etc.

“Eles buscavam pelo menos a oportunidade de debater ideias em um ambiente de livre debate. Eles queriam um ambiente intelectual de discussão”, comentou o historiador Bernardo Gerude.

A maioria desses intelectuais tinha estudado em Portugal. Eles achavam que podiam aplicar aqui o que aprenderam do outro lado do Oceano Atlântico.

“Eles trazem um conceito para o Brasil, pela primeira vez, que é a ideia do bem comum. A ciência que nós aprendemos nas universidades e praticamos tem que ser praticada não em benefício de governo, de Estado, de Coroa. Ela tem que ser praticada em benefício do povo do Rio de Janeiro”, explicou a historiadora Heloisa Starling.

Como agiam os médicos da sociedade literária

Starling, então, exemplifica como os médicos da sociedade literária pensavam e agiam. Na prática, usavam a ciência para investigarem problemas sanitários, conscientizarem a população e evitarem o que, mais tarde, poderia se tornar uma epidemia.

“Começa a ter uma epidemia no Rio de Janeiro e eles [médicos] desconfiam do local onde as pessoas se abastecem de água. Aí eles vão lá fazer a pesquisa e ensinar essas pessoas que elas não podem tomar a água da fonte, pois evitariam a epidemia”, explicou Starling.

Mapeamento de plantas medicinais

Aquela foi a época em que os jesuítas criavam remédios com tudo o que aprenderam na vida. Faziam combinações de plantas, muito em segredo. Tudo era precário. Os médicos da sociedade literária, porém, não queriam depender tanto dos medicamentos oriundos de Portugal. Por isso, eles se debruçaram nos estudos da medicina local.

Jacinto José da Silva Quintão, por exemplo, fez um mapeamento de todas as plantas em volta do Rio de Janeiro que poderiam ser usadas para fabricarem medicamentos. “O mapa das plantas no Brasil, suas virtudes e lugares” está guardado na Biblioteca Nacional.

“Aí ele faz um livro desenhando as plantas. Então, aqui dessa folha, você pode fazer uma pomada que vai melhorar. Então, ele entrega para os boticários para eles fazerem remédios para população, acessíveis”, contou Starling.

O destaque do conhecimento científico

Os letrados do Rio de Janeiro tinham esse desejo de se fazer ciência, de criar conhecimento. O historiador Gustavo Henrique Tuna comparou a produção científica dos cariocas na colônia com o iluminismo, movimento global com foco na razão.

“Esses homens de letras estavam querendo produzir conhecimento para que esse conhecimento fosse usado aqui na colônia, mas que também dialogasse em outras partes do globo. O iluminismo é um fenômeno global. Ele não foi produzido apenas na Europa. Aqui também se procurava fazer conhecimento com base na experiência cientifica, com base na razão”, salientou Tuna.

Ciência, debate, divisão de conhecimento. Tudo isso é parte do legado que aqueles homens da sociedade literária, no fim do século dezoito, deixaram para o país.

“Eles imaginam coisas sensacionais com esses livros que a gente estava falando. Por exemplo, Silva Alvarenga reúne a turma dele, os amigões dele, e eles saem aqui pelo interior do Rio para imaginar que eles, ali, vão instalar uma república igualitária. E é a primeira vez que você constrói uma utopia republicana no Brasil. É a república do Taguay, onde os homens e os bichos vão viver em harmonia.  Ele está tirando isso de Rousseau. São uma bela conjuração”, concluiu Starling.

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