Jornal da Band

Filme sobre a Amazônia ficou perdido mais de 100 anos e foi parar na Europa

O filme só estreou no Brasil no final do ano passado, cem anos depois de ser feito

Por Sérgio Gabriel

As imagens em preto e branco do filme mudo são raras e preciosas. Fazem parte do primeiro longa-metragem filmado na Amazônia, em 1918. Tudo registrado pelas lentes do cineasta português radicado em Manaus, Silvino Santos. 

O documentarista se especializou em mostrar a diversidade da floresta no início do século 20, com um olhar atento para os trabalhadores.

 “Ele tem um olhar muito próximo a essa figura do trabalhador, muito simpático. E nem sempre isso era comum para época. E isso é muito da origem social dele, porque ele também era um trabalhador. Ele sabia como, mesmo num filme que suas duas horas quase trata da economia amazônica, trazer uma certa leveza e ser, ao mesmo tempo, didático na apresentação dessas diferentes atividades”, afirmou o professor Eduardo Morettin.

 As imagens registram o cotidiano de quem vivia às margens de um dos maiores rios do mundo, o Amazonas. A navegação pelos igarapés, a extração da borracha, a pesca do pirarucu e do peixe boi, os índios peruanos, as atividades comerciais.

 Mas o filme "Amazônia, o maior rio do mundo" ficou mais de cem anos perdido e virou personagem de uma história fantástica.

 Após as filmagens, o cineasta entregou o filme para um comerciante com a tarefa de comercializá-lo na Europa. Mas chegando ao Velho Continente, o comerciante passou a se apresentar como sendo ele o diretor do filme, que foi revendido para algumas produtoras europeias. 

Silvino Santos jamais viu o filme de novo. Com o novo nome, o filme foi exibido na década de 30 em cinemas europeus mas acabou desaparecendo. Foi localizado no acervo da Cinemateca de Praga, com legendas em tcheco e identificado agora como um filme norte-americano.

 O filme mítico virou tese de mestrado do Pesquisador Savio Stocco. No final do ano passado, o que parecia impossível, aconteceu. E as imagens se materializaram diante dele.

 “E a gente reconheceu. Era um filme que a gente não tinha esperança de ser encontrado e praticamente inteiro”, afirmou Savio Stocco.

 Um dos pontos escolhidos pelo cineasta para registrar a comercialização dos produtos da floresta é o mercado Ver-o-peso que, mesmo 100 anos após o registro do filme, permanece como um dos principais pontos comerciais da região amazônica.

 O filme só estreou no Brasil no final do ano passado, cem anos depois de ser feito. E a primeira exibição foi na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.

 “Isso é fundamental ainda mais hoje em dia que se fala tanto na Amazônia que o mundo está voltado para Amazônia é ter descoberto um filme de 1919 que mostra como era a Amazônia e o Rio Amazonas naquele momento e o Silvino Santos para o cinema brasileiro, ele é importante, olha ele foi um documentalista, né”, afirmou Dora Mourão, diretora geral da cinemateca.

CTA Desktop

Tópicos relacionados

Mais notícias

Carregar mais