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Moldávia: o próximo alvo de Putin?

Apontado como braço do Kremlin, grupo que controla a região separatista da Transnístria solicita "proteção" de Moscou, levantando temores de que roteiro que levou à invasão da Ucrânia volte a se repetir na Moldávia.

Por Deutsche Welle

Separatistas apoiados pelaRússia na Transnístria, uma região da Moldávia, pediram "proteção" ao governo de Vladimir Putin, ao qual dirigiram um apelo para que tome "medidas para defender" o território diante do que chamaram de "crescente pressão" das autoridades do pequeno país, uma empobrecida ex-república soviética situada entre o norte da Romênia e o sul da Ucrânia.

Segundo relatos da imprensa russa, o apelo consta de um documento aprovado pelo grupo em um congresso – o primeiro desde 2006 – em Tiraspol, maior cidade da região separatista. Nele, o governo moldavo é acusado de travar uma "guerra econômica" contra a Transnístria – habitada, segundo os separatistas, por mais de 220 mil russos – e de bloquear importações.

Moscou reagiu ao apelo pouco depois, declarando que a "proteção" dos habitantes da Transnístria era "prioritária" – a doutrina militar russa autoriza operações das forças armadas fora da Rússia sob a justificativa de proteger cidadãos nacionais.

A declaração de Tiraspol vem um dia antes de um discurso de Putin, anunciado para esta quinta-feira (28/02), sobre a situação na Moldávia.

No documento, os separatistas dirigem-se ainda à Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), ao Parlamento Europeu, à Cruz Vermelha e às Nações Unidas, pedindo que evitem "provocações" que possam levar a uma "escalada das tensões".

Próximo alvo ou base para um ataque a Odessa?

A movimentação dos separatistas e a reação do Kremlin despertou na Moldávia o temor de que o país possa se tornar o próximo alvo de uma agressão russa – em fevereiro de 2022, um pedido semelhante de socorro à Rússia, feito por separatistas no leste da Ucrânia, serviu de pretexto para a invasão do país.

Em um discurso, o presidente da Transnístria teria acusado Quichinau, segundo relatos da imprensa local, de praticar uma "política do genocídio" ao pressioná-los economicamente, "psiquicamente", juridicamente e linguisticamente.

Prevenir um suposto "genocídio" contra a população russa que habita o leste da Ucrânia foi justamente uma das linhas de propaganda usadas por Putin para justificar a guerra.

Uma porta-voz russa do Ministério do Exterior negou que o país tenha a intenção de anexar a Transnístria, acusando a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de tentar fazer da Moldávia "uma segunda Ucrânia".

Diante do contexto da guerra, observadores apontam que a Rússia possa estar querendo usar a Transnístria como base para um ataque de peso à cidade portuária ucraniana de Odessa, a poucas dezenas de quilômetros dali.

"Dado o papel cada vez mais agressivo da Rússia na Europa, estamos acompanhando muito atentamente as ações da Rússia na Transnístria e a situação como um todo", reagiu nesta quinta-feira um porta-voz da diplomacia dos Estados Unidos, principal aliado militar da Ucrânia.

A Casa Branca também se pronunciou em apoio "à soberania e integridade internacional da Moldávia dentro de suas fronteiras internacionalmente conhecidas".

Separatistas controlam região desde 1992

Ocupando uma área menor que o Distrito Federal, a Transnístria é uma estreita faixa de terra com cerca de 465 mil habitantes que oficialmente pertence à Moldávia, país que aspira integrar a União Europeia (UE).

Após declarar-se independente em 1992 na esteira de uma guerra civil, a região passou ao controle de forças pró-russas, adotando moeda e passaportes próprios. Apesar de a emancipação do território não ser reconhecida internacionalmente, nem mesmo pela Rússia, o país mantém soldados ali há décadas e abastece os separatistas gratuitamente com gás.

Tensões crescentes

Em 2022, várias explosões de origem desconhecida abalaram a Transnístria. Em março de 2023, separatistas acusaram a Ucrânia de um atentado fracassado contra seu líder. Na semana passada, o Ministério da Defesa russo acusou, sem apresentar provas, a Ucrânia de planejar um ataque militar à Transnístria.

O governo moldavo e a UE afirmam que a Rússia age para desestabilizar a Moldávia – o país, que antes vivia sob a influência de Moscou, passou a se aproximar do Ocidente.

ra (dpa, AFP, Reuters)

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