A Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) surpreendeu em seu primeiro teste. A recém-fundada sigla populista de esquerda conquistou 6,2% dos votos da Alemanha nas eleições europeias, ficando à frente de legendas consolidadas, como o Partido Liberal Democrático (FDP), que compõe a atual coalizão de governo e recebeu 5,2% dos votos, e A Esquerda, antiga sigla da política que dá nome ao grupo e amargou 2,7%.
"Acho que isso nunca aconteceu na história da Alemanha", comentou a líder do partido, Sahra Wagenknecht, no domingo (09/06) após o resultado das eleições. Ela se refere ao fato de sua aliança ter conquistado um bom resultado em sua primeira eleição pouco depois de sua fundação.
Wagenknecht é bem conhecida na Alemanha e já foi o rosto do partido A Esquerda, de que se desligou em 2023, para logo em janeiro fundar a aliança que leva seu nome. O sucesso da legenda em seu primeiro teste se deve principalmente à esquerdista, que se dispôs a mudar o cenário partidário alemão com uma abordagem política que ainda é vaga.
"Vamos mudar a política na Alemanha", gritou Wagenknecht a seus apoiadores no domingo. A BSW foi especialmente bem recebida no Leste alemão, onde conquistou 13% dos votos, ficando no terceiro lugar geral, atrás da ultradireitista Alternativa para Alemanha (AfD) e dos conservadores da União Democrata Cristã (CDU).
Partido de uma mulher só
"A BSW preencheu um vazio ao defender uma política social de esquerda e uma política de direita na pauta social", avalia o cientista político Jan Philipp Thomeczek, da Universidade de Potsdam. A legenda, por exemplo, luta pelo aumento do salário-mínimo e das aposentadorias na Alemanha, porém, é contra a proteção climática e o acolhimento de refugiados.
Wagenknecht considera "altamente problemática" a cultura de boas-vindas para refugiados, adotada em 2015 pela então chanceler federal, Angela Merkel. "Isso sobrecarrega o nosso país", afirmou a esquerdista.
Thomeczek destaca que a receita política pregada pela BSW é nova na Alemanha, ainda mais somada a uma abordagem populista. Segundo o pesquisador, a retórica de Wagenknecht contra "quem está lá em cima" faz dela uma "defensora" da classe média. Ele lembra que a esquerdista afirma com frequência que os partidos governistas são perigosos, burros, mentirosos ou hipócritas.
"Estamos aqui para quem perdeu a fé na democracia", disse Wagenknecht no dia seguinte às eleições europeias, acrescentando que seu partido é para os "desesperados".
Wagenknecht rejeita uma coalizão com a AfD. Sua sigla e a ultradireita, porém, têm posições semelhantes em relação à Rússia. A BSW é contra o envio de armas para Ucrânia e contra as sanções impostas a Moscou pela invasão ao país vizinho. A legenda defende uma solução diplomática para o conflito. Essas opiniões são populares no Leste alemão.
A personalização do novo partido também não tem precedentes, segundo Thomeczek. "Todo mundo conhece a Sahra Wagenknecht, o que é incomum. Ela polariza. Ela tem muitos críticos, mas também muitos fãs."
Jovem comunista
Durante a juventude, Wagenknecht era comunista. Nascida em 1969 em Jena, Turíngia, de mãe alemã e pai iraniano, ela passou praticamente toda a vida no partido atualmente chamado A Esquerda – desde sua versão original, Partido Socialista Unitário da Alemanha (SED), que governava a antiga República Democrática Alemã (RDA). Ela moldou a imagem de A Esquerda por muitos anos – principalmente em disputas internas.
Wagenknecht é casada com o ex-presidente do Partido Social Democrata (SPD) Oskar Lafontaine, que saiu brigado da legenda e foi para A Esquerda. Nos últimos meses, auxiliou Wagenknecht na fundação da BSW.
Poucos eleitores da AfD
Antes das eleições, analistas previam que a BSW ia conquistar votos entre eleitores da AfD, devido a sobreposições em seus programas. No entanto, as análises do instituto Infratest Dimap não confirmam essa previsão: só cerca de 160 mil votos de ex-leitores dos populistas de direita foram para a legenda.
Assim, não se concretizou a promessa da BSW de conquistar quem votava na AfD basicamente por protesto, não por convicção. A BSW atraiu principalmente eleitores social-democratas, cerca de 520 mil, e do antigo partido de Wagenknecht, A Esquerda, aproximadamente 410 mil.
Após o sucesso em sua estreia, a Aliança Sahra Wagenknecht espera agora obter bons resultados nas eleições de três estados do Leste: Brandemburgo, Saxônia e Turíngia, no terceiro trimestre de 2024. Pesquisas indicam que a BSW pode conquistar mais de 10% dos votos, com chances de até participar de alguma coalizão de governo. A meta de longo prazo é alcançar um bom resultado nas eleições parlamentares de 2025.
Autor: Volker Witting