Pelo menos 63 jornalistas foram mortos na guerra em Gaza e sua extensão ao sul do Líbano, entre eles 56 palestinos, 4 israelenses e 3 libaneses. No mundo, as mortes sobem para 94 jornalistas. Ainda há cerca de 30 jornalistas desaparecidos no México e uma fotógrafa, desde 1989, em El Salvador.
As mortes em Gaza são atribuídas a Israel, que alega não ter jornalistas por alvo. Morreram porque estavam em uma área ativa de combates, mesmo que uniformizados com coletes com a palavra PRESS bem visível.
Durante a invasão do Líbano em 1982, ia com meu carro para Beirute, às vezes dando carona a outros correspondentes. Na fronteira, assinava um documento me responsabilizando pela minha vida, e ganhava uma toalha para cobrir o teto do carro. Cada dia, uma toalha de outra cor. Era um código para que a aviação israelense me evitasse, quando rodando por estradas abertas por tanques.
Em Beirute, todos os correspondentes, na partida de Yasser Arafat para o exílio, vestiam uma camiseta que pedia: "Não atire em mim, sou jornalista", em árabe, hebraico e inglês. Sobre o teto do porto, avistando o navio Atlântida partir, franco-atiradores nos miraram, disparando. A camiseta mais eficaz que já usei cobrindo guerra foi a que tinha a bandeira do Brasil estampada. Nas ruas do mundo árabe, quando passava, algumas pessoas me diziam: Belé, Belé, Belé — o Pelé que nos unia.
Raro era um jornalista morrer em zona de combate, a não ser em El Salvador, onde os guerrilheiros do grupo Farabundo Martí não permitiam nem que os corpos fossem retirados das ruas, algumas onde feiras eram armadas, apesar do cadáver visível e com um cheiro nauseabundo no ar.
Em Gaza, porém, os jornalistas ficam expostos a bombas despejadas pela aviação. E quando uma delas cai, não escolhe quem acertar — se criança, mulher, idoso ou jornalista. No sul do Líbano, as retaliações aos disparos de mísseis do Hezbollah, Israel responde com a artilharia de tanques, principalmente, mas usa também bombardeios aéreos e drones.
As agências e jornais a que pertenciam alguns jornalistas mortos entraram contra Israel na Corte Internacional Criminal, na Holanda. Mas Israel não a reconhece.
Outras vítimas são freelancers, que não têm quem os proteja ou lhes dê equipamento, como capacete e colete a prova de balas. Uma repórter, Nour Swirki, mãe de duas crianças, trabalha em Khan Yunis, como freelancer. "Estou sempre pensando: e se alguma coisa acontece aos meus filhos. Não é uma situação fácil para nós, enquanto jornalistas homens e mulheres, e como mães e pais".
O correspondente da Al Jazeera Wael al-Daudouh estava no ar quando recebeu a notícia que sua mulher e dois filhos, um neto e outros oito parentes foram mortos num bombardeio aéreo. A TV o mostrou ajoelhado, logo depois, ao lado do corpo de um dos filhos.
Na sexta-feira, o cinegrafista Samer Abu Daqqa foi morto por um drone, enquanto cobria o bombardeio de uma escola usada como abrigo para palestinos deslocados de suas casas, no sul de Gaza. Israel se justificou declarando que os terroristas do Hamas usavam a escola para o lançamento de mísseis. Tinha vídeos provando que não era mentira. No Catar, a Al Jazeera distribuiu um comunicado, anunciando que "estabeleceu um grupo de trabalho conjunto, que inclui a sua equipe jurídica internacional e peritos jurídicos internacionais que, em colaboração, iniciarão o processo de compilação de um dossier abrangente para apresentação ao procurador do tribunal (de Haia)". O Comitê de Proteção a Jornalistas protestou contra o inédito número de jornalistas mortos desde 7 de outubro em Gaza.