O ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, respondeu mais de 100 perguntas durante depoimento à Polícia Federal, que durou cerca de sete horas, e declarou que não sabia do esquema de espionagem ilegal.
Segundo investigação da PF, a estrutura da agência foi usada, no período em que foi comandada por Ramagem, para espionar autoridades dos três Poderes e jornalistas – caso que ficou conhecido como “Abin paralela”.
Fontes da Polícia Federal disseram à Band que o ex-chefe da Abin negou ter determinado o uso do first mile, software que teria sido usado no esquema de espionagem ilegal.
Ele ainda afirmou que, depois de o escândalo se tornar público, soube que a ideia e execução do plano teria partido de Marcelo Araújo e Giancarlo Gomes Rodrigues, presos durante a quarta fase da operação Última Milha, deflagrada pela PF na semana passada.
Ramagem também reafirmou que Jair Bolsonaro sabia que estava sendo gravado durante a reunião exposta na última semana e que fez o registro para proteger o ex-presidente se uma "proposta indecorosa" fosse feita.
Investigação da ‘Abin paralela’
A Polícia Federal investiga o possível uso ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que Alexandre Ramagem dirigiu entre 2019 e 2022. O caso vem sendo apurado desde o ano passado como desdobramento da Operação Última Milha, deflagrada em 11 de julho de 2023.
A Abin é o serviço de inteligência civil do Brasil e está vinculada diretamente ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República. Há suspeita de uso ilegal de sistemas para espionar autoridades e desafetos políticos durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que também é investigado.
O depoimento de Ramagem aconteceu dois dias após o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubar o sigilo de gravação feita pelo delegado em reunião ocorrida em agosto de 2020. A decisão foi tomada pelo ministro Alexandre de Moraes na segunda-feira (15). O encontro gravado contou com a participação de Bolsonaro e do então ministro GSI, Augusto Heleno.
Também estiveram presentes advogadas do senador e filho do ex-presidente, Flávio Bolsonaro (PL), que vinha sendo investigado por suspeita de "rachadinha" em seu gabinete no período em que foi deputado estadual no Rio de Janeiro. As gravações revelam conversas para que órgãos oficiais fossem usados com o intuito de blindá-lo das investigações.
O áudio foi encontrado pela Polícia Federal em um computador apreendido em endereços ligados a Ramagem. A certa altura, Bolsonaro afirma que "a gente nunca sabe se alguém está gravando alguma coisa". Ainda assim, após a queda do sigilo, o delegado afirmou que o ex-presidente sabia da gravação.
Ramagem é também pré-candidato pelo PL à prefeitura do Rio de Janeiro e conta com o apoio de Bolsonaro. Após a divulgação do áudio, os dois apareceram juntos em um vídeo divulgado nesta quarta-feira (17) nas redes sociais do deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL), no qual convocam apoiadores para agendas públicas nos próximos dias.