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Caso criptomoedas: dinheiro investido por clientes era enviado para contas pessoais de Glaidson

De acordo com a Binance, uma das principais corretoras de criptoativos do mundo, nem a G.A.S Consultoria tinha conta na empresa de investimentos

Rafaella Balieiro (sob supervisão de Natashi Franco)

Glaidson está preso em Bangu e teve a prisão preventiva mantida no dia 28
Glaidson está preso em Bangu e teve a prisão preventiva mantida no dia 28
Reprodução/Redes Sociais

Um novo relatório da Polícia Civil apontou que Glaidson Acácio dos Santos repassou parte do dinheiro de clientes para contas pessoais dele e de outros sócios da GAS Consultoria. Cerca de R$ 1 bilhão e 200 milhões não foram investidos diretamente em criptoativos, como os clientes haviam imaginado. O “Rei dos bitcoins”, apelido de Glaidson, está preso desde o dia 25 do mês passado.

A polícia ainda aponta que a empresa de investimentos movimentou cerca de R$38 bilhões nos últimos cinco anos, sendo quase a metade do valor, um pouco mais de R$ 17 bilhões, apenas no último ano. A esposa de Glaidson, Mirelis Zerpa, está foragida desde o início da operação Kryptos, ela é procurada pela Interpol.

“Quando a pessoa assina um contrato com a G.A.S, ela acha que vai ter dinheiro investido na “Binance”, uma das maiores corretoras de criptoativos do mundo. No entanto, em contato com a Binance, descobrimos que os clientes da G.A.S não tinham sequer uma conta na corretora em próprio nome, apenas o Glaidson tinha conta na empresa, porém o dinheiro já não estava mais lá. Ele diluiu o aporte em diversas negociações menores para dificultar o rastreio do dinheiro”, explicou Leonardo Borges, delegado titular da Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de dinheiro.

A dissimulação dos criptoativos é feita através da transferência do valor total para outras contas menores. A maior parte do dinheiro captado pela G.A.S Consultoria não foi investida nas moedas virtuais, mas sim destinada a diversas contas de pessoas jurídicas.

“Nós constatamos com bastante segurança que se trata de uma pirâmide de esquema financeiro, já que o dinheiro foi envaido para os líderes da empresa e ao mesmo tempo, os clientes eram estimulados a manter o capital na empresa e ainda realizar novos aportes. Cada vez mais pessoas novas vão entrando e esse sistema se retroalimenta”, comentou Leonardo.

A empresa G.A.S Consultoria continua pagando a rentabilidade prometida aos clientes, mesmo com os sócios presos. Segundo o delegado, essa é uma forma de atrapalhar a investigação e já havia sido pensada previamente, considerando que a qualquer momento o esquema poderia ruir: “É interesse deles manter os clientes satisfeitos para enfraquecer as imputações da polícia”, finalizou Machado.

RELEMBRE O CASO:

A cidade de Cabo Frio, na Região dos Lagos, vem sendo chamada de “Novo Egito” por conta do crescimento no número de fraudes por pirâmides financeiras. No dia 25 do mês passado, Glaidson foi preso em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Na ocasião, a Polícia ainda encontrou mais de R$14 milhões em espécie e apreendeu cerca de 591 bitcoins, o que ultrapassa os R$148 milhões.

Após a prisão do empresário, clientes que haviam investido com ele participaram de protestos em Cabo Frio e no Rio, pedindo a soltura de Glaidson. No entanto, a Justiça decretou a manutenção da prisão preventiva dele e de dois outros sócios da empresa de consultoria dois dias depois – os três foram transferidos para o Complexo Penitenciário de Bangu.

As investigações da Polícia Civil começaram a tomar um novo rumo depois da morte do investidor e influenciador digital Wesley Pessano, quando uma força-tarefa foi montada para apurar as circunstâncias do assassinato. A Polícia Civil ainda aponta o crescimento no número de empresas que oferecem o serviço de consultoria financeira na região – como é o caso da G.A.S, de Glaidson Acácio dos Santos.