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'Multiplicação de peixes': obras fortalecem economia local na Lagoa de Araruama

Governo do Estado revitaliza as águas com uma dragagem de R$ 22 milhões, que beneficia os seis municípios banhados pela lagoa.

Ana Clara Prevedello*

Dragagem do Canal do Itajuru, em Cabo Frio, triplicou a quantidade de pescados na região.
Dragagem do Canal do Itajuru, em Cabo Frio, triplicou a quantidade de pescados na região.
Divulgação / Governo do Estado do Rio de Janeiro

Obras do Governo do Estado para revitalizar a Lagoa de Araruama têm beneficiado a economia e o turismo local dos municípios em seu entorno.

Entre as intervenções, está a dragagem do Canal do Itajuru, em Cabo Frio. O processo remove a areia, o lodo e outros sedimentos de um trecho de oito quilômetros das águas, através da troca hídrica entre o Oceano Atlântico e as águas da lagoa, limpando e atraindo variedades de peixes que estavam sumidas.

A obra já está promovendo o que pescadores da região têm chamado de “milagre da multiplicação”. Nos últimos três meses, a quantidade de pescados triplicou no complexo lagunar, com mais de 100 toneladas de 40 espécies.

O fenômeno fortalece quem vive da pesca artesanal. Francisco da Rocha Guimarães, conhecido como Chico Pescador, é ambientalista e lidera 30 famílias da Associação dos Pescadores e Amigos da Praia da Pitória, em São Pedro de Aldeia.

Ele afirma que custou a acreditar quando os companheiros começaram a pescar três vezes mais do que antes.

“Parece realmente um milagre, mas são resultados das ações em defesa do meio ambiente, diversos fatores climáticos e a união de ONGs ambientais, Governo do Estado e prefeituras”, explica Chico.

Os pescadores comemoram a nova renda familiar, que agora pode chegar a R$ 5 mil.

“O aumento significativo da pesca tem proporcionado uma renda razoável, de até R$ 5 mil para cada família. Agora, mesmo na entressafra, estamos surpresos com a quantidade de peixes e a grande variedade de espécies”, afirma José Ricardo de Souza, o Ricardinho Pescador, que fundou a Associação de Pescadores Artesanais da Praia da Baleia, também em São Pedro da Aldeia.

A engenheira Mayara Santos, da Construtora Brasform, destacou que a dragagem também vai deixar o fluxo de água com velocidade e pureza mais intensas, além de ajudar na temperatura hídrica equilibrada e no tráfego de embarcações maiores.

“Os benefícios para a vida marinha e para a sociedade em geral nos arredores da Lagoa de Araruama são incontáveis”, diz Mayara. Ela lembrou ainda que depois de três décadas, a lagoa voltou a abrigar cavalos-marinhos, que só se reproduzem em águas límpidas.

As obras são orçadas em R$ 22 milhões, valor do Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano. O monitoramento é feito pelo Instituto Estadual do Ambiente, que conta com o apoio das secretarias municipais.

Cerca de 70% da meta do cronograma já foi cumprida. Os detritos que serão retirados do fundo da baía somam 400 mil metros cúbicos, o que equivale a pelo menos 28 mil caminhões.

E o processo de despoluição da lagoa não remove só sedimentos. Segundo Jorge Marcucci, um dos fiscais da Diretoria de Recuperação Ambiental do Inea que acompanha a operação de dragagem, até notebooks são encontrados no fundo das águas.

“Não é só areia que é removida com o desassoreamento. No processo de dragagem, também são retiradas madeiras, carcaças de TVs, eletrodomésticos, calçados e até notebooks. Tudo isso vinha obstruindo o fluxo de água”, disse o fiscalizador.

O vice-governador do Rio e secretário do Ambiente, Thiago Pampolha, reforça a importância da dragagem frequente no Canal do Itajuru.

“Garantir a troca hídrica de forma mais constante é fundamental, pois representa a manutenção da flora e fauna, da pesca artesanal e o incremento do turismo, gerando emprego e renda”, justifica.

Além dos pescadores que se beneficiam com a recuperação da Lagoa de Araruama, o comércio e o turismo já comemoram os novos negócios.

É o caso de Vanilza Machado Soares, que alugou o Quiosque dos Veleiros no início do ano, de olho nas obras da Praia de Iguaba Grande. Ela conta que valeu a pena esperar.

“Mesmo com as obras para a extensão da areia ainda em curso, já recebo mais de 100 velejadores a cada 15 dias, sem contar com turistas nacionais e estrangeiros. Trouxe minha mãe para me ajudar, e ainda contrato mais umas três pessoas em dias de grande movimento”, conta a comerciante.

*Sob supervisão de Christiano Pinho