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“Se ela quisesse o pastor vivo, ele estaria”, diz filha de Flordelis

Roberta Santos, filha da ex-deputada, disse que o crime só aconteceu porque Flordelis "deixou".

Felipe de Moura*

Flordelis durante o julgamento
Flordelis durante o julgamento
Brunno Dantas/TJRJ

O quarto dia do julgamento da pastora Flordelis dos Santos de Souza, de três filhos e da neta dela, nesta quinta-feira (10), foi marcado pelo depoimento das últimas testemunhas de acusação. A primeira a falar foi Roberta Santos, filha da ex-deputada federal.

Ela afirmou que se a ex-deputada quisesse o pastor Anderson do Carmo vivo, ele com certeza estaria com vida.

"O Niel (apelido da vítima) estaria vivo se ela quisesse ele vivo. Se 99% da casa quisesse ele morto e ela quisesse ele vivo, ele estaria vivo, porque ela era soberana naquela casa, ninguém fazia nada que ela não quisesse. Então ele só foi assassinado porque ela permitiu", declarou Roberta.

Questionado se ela achava que Flordelis foi a mandante do crime, Roberta respondeu que "com certeza".

Ela chorou boa parte do depoimento e afirmou que o crime só aconteceu porque Flordelis "deixou". Roberta foi mais uma testemunha a falar das tentativas de envenenamento contra Anderson do Carmo, morto em junho 2019.

A neta de Flordelis, Rebeca Rangel, contou com detalhes os acontecimentos na noite da morte do pastor. Ela disse que o irmão, Ramon Oliveira, mexeu nas cápsulas das balas depois dos disparos serem efetuados. A mulher ainda relatou que que Flordelis queimou documentos em uma fogueira depois do assassinato e que vários filhos passaram por treinamentos para prestar depoimento à polícia.

Ela contou que logo após o crime, uma amiga da avó Paula Barros, conhecida como Paula do Vôlei, foi para a casa da família e passou a instruir como as pessoas deveriam prestar depoimento na Delegacia de Homicídios de Niterói, que estava investigando o caso. De acordo com Rebeca, a orientação era apenas falar à polícia coisas que ajudassem Flordelis.

"Ela sentava com a gente frente a frente, como se ela fosse a delegada e eu estivesse prestando depoimento e falava o que a gente deveria falar na DH, tinha que falar só o que ajudasse ela (Flordelis). A Paula disse que eu não poderia falar que o Ramon catou as cápsulas da arma no chão, nem que achava que a Flordelis era mandante, era só para falar que ela jamais faria nada", narrou Rebeca que ainda afirmou que a avó era manipuladora e falou sobre o medo que Flordelis e alguns filhos e netos ficaram da polícia ir à casa.

Os depoimentos das testemunhas de acusação se encerraram com a oitiva de Erica dos Santos de Souza, filha afetiva de Flordelis. Erica falou por cerca de 25 minutos, sendo o depoimento mais rápido até aqui. Erica confirmou episódios relatados por outras irmãs, como o sumiço do celular do pastor Anderson.

O julgamento ainda não está perto de terminar, já que a expectativa é que 30 testemunhas sejam ouvidas ao todo. No dia de hoje, chegou ao fim do depoimento das 10 testemunhas de acusação. Também nesta quinta (10), as testemunhas de defesa começaram a depor. O processo vai levar mais alguns dias com as falas de parentes de Flordelis e peritos contratados pela defesa.

TESTEMUNHAS DE DEFESA COMEÇAM A SER OUVIDAS

Os filhos de Flordelis que apoiam a mãe chegaram ao tribunal de Niterói no final dessa manhã acompanhados do namorado da ex-deputada, Allan Soares. Apenas no quarto dia de julgamento as testemunhas de defesa começaram a ser ouvidas.

A primeira delas foi Thayane Dias, filha afetiva da ex-parlamentar, que começou a depor às 12h50. Ela narrou que o pastor abusou da filha Rafaela no quarto enquanto ela estava de camisola e que ele era rude com os filhos e não se importava com a família.

A estratégia dos advogados dos réus é levar ao júri acusações de violências físicas e sexuais supostamente cometidas por Anderson do Carmo. Em um vídeo gravado no Complexo Penitenciário de Gericinó, e divulgado no último sábado, Flordelis detalha os episódios.

Thayane ainda afirmou que nunca viu colocarem remédios na comida do pastor e nem nunca ouviu falar em episódios de envenenamento. No entanto, ela confirmou que Lucas já havia lhe confidenciado que Marzy tinha procurado ele para matar Anderson.

"Desde o início, nunca foi ouvida nenhuma testemunha de defesa, então tudo o que foi pautado até aqui foi da acusação. Então, por isso até, a gente entende todo esse prejuízo que foi causado na imagem dela, mas a gente espera que a partir de hoje seja esclarecido efetivamente os fatos, as situações e as acusações", comentou

Depois de todas as testemunhas de defesa falarem, os réus serão ouvidos. Por fim, a acusação e defesa vão defender todos os pontos aos sete jurados.

FIM DO TERCEIRO DIA É MARCADO POR DISCUSSÃO

O terceiro dia do julgamento da ex-deputada federal Flordelis, dos três filhos e da neta dela, foi marcado por um bate-boca. A sessão desta quarta-feira (9) chegou a ser suspensa após promotores do Ministério Público mostrarem o trecho de um livro escrito por uma jornalista, levantando a hipótese que a advogada da ex-parlamentar, Janira Rocha, teria instruído testemunhas.

Depois do tumulto, a juíza Nearis dos Santos Carvalho negou o pedido dos advogados de Flordelis em chamar e autora do livro para esclarecer os fatos. A advogada Janira Rocha negou a acusação de que influenciou testemunhas.

Mais quatro testemunhas de acusação foram ouvidas. Luana Rangel, nora de Flordelis, foi a primeira a depor. Depois, os filhos afetivos Daniel dos Santos e Daiane Freire. Por fim, a neta afetiva Raquel da Silva Falou. Os três últimos falaram por videoconferência porque não se sentiam confortáveis de estar presencialmente com os réus. Todos eles confirmam o envolvimento de Flordelis no assassinato, com a narração de outros episódios de tentativa de matar Anderson, como envenenar a bebida do pastor e contratar um matador de aluguel junto com Rayane dos Santos, neta que está sendo julgada.

Após depoimento, Luana Rangel relatou à imprensa que presenciou situações em que Flordelis estaria tentando envenenar a bebida do pastor.

Parentes e amigos de Flordelis estiveram presentes neste dia. Ao ver de longe essas pessoas, a ex-deputada agradeceu a presença deles e pediu que orassem muito. Flordelis chorou durante o depoimento dos filhos. No testemunho da última pessoa, a ex-política ficou fora do plenário por 50 minutos. Não se soube o motivo.

OS DEPOIMENTOS

Primeira a falar, Luana Rangel (nora de Flordelis e esposa de Misael, que já prestou depoimento ontem) falou do envolvimento de Rayane dos Santos, neta da ex-parlamentar que está sendo julgada, junto à avó em uma das tentativas de matar o pastor Anderson do Carmo através da contratação de um matador de aluguel, o que não deu certo. Em sessão, ela disse que já viu Flordelis colocando veneno na bebida do pastor.

Segundo a falar, e por videoconferência, Daniel dos Santos de Souza, filho afetivo de Flordelis, disse que a ex-deputada fazia a cabeça dele para pensar que Anderson do Carmo não era um "santo". Daniel reafirmou a fala de outros filhos em depoimento: Flordelis dizia que Deus iria levar Anderson em breve porque ele fazia "algumas coisas ruins e o tempo dele na Terra estava acabando".  

Terceira a depor, Daiane Freires (filha afetiva de Flordelis) falou que, desde o assassinato do pastor, ela soube que a mãe afetiva tinha sido a mandante do crime. Daiane confessou ter saído da casa da família com medo da ex-parlamentar. "Se minha mãe matou o marido dela, imagina o que não faria comigo". Daiane Freires também disse que já presenciou um caso em que pastor Anderson importunou sexualmente uma das irmãs dela e que, ao falar disso a Flordelis, ela teria ignorado.  

Quarta a depor, Raquel Silva (neta afetiva de Flordelis) falou sobre os casos de envenenamento ao pastor. ELa disse que a mãe dela tomou um dos sucos e passou mal, além de precisar ser levada ao hospital e ficar internada. Ela, em depoimento, revelou que uma Paula Barros foi contratada por Flordelis, se apresentando como psicóloga, para conversar com a família, após o crime.

Segundo Raquel, Paula ouvia a versão de cada um sobre o que fez no dia do crime e regulava o que falar ou não. "A gente ficava lá o tempo que ela achava adequado. Todo mundo da casa tinha que passar por essa simulação de depoimento". Raquel relatou que Flordelis ligou para ela assim que soube que a neta havia sido chamada para depor e pediu para ela não ir à sede policial.

De acordo com Raquel, algumas pessoas da família tentaram a prender no carro, mas ela "deu um jeito", saiu e foi depor. A neta afetiva ainda comentou, em depoimento, que, após a morte de Anderson, os preferidos de Flordelis ganharam vários Iphones enquanto ela e outros, não ganharam nada. "Era como se fosse um prêmio". Raquel contou que "negue até a morte" era o lema da casa sobre coisas que aconteciam por lá.

*Sob supervisão de Natashi Franco