Investigações do Ministério Público do Rio e da Polícia Federal indicam que milicianos da organização criminosa comandada por Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, contam com uma rede de informantes envolvendo policiais militares e civis, além de agentes penitenciários. O grupo teria acesso até mesmo a bancos de dados do Governo do Estado.
Era através de informações privilegiadas que os bandidos articulavam os planos de invasão de territórios controlados por facções rivais, de assassinatos contra desafetos e até mesmo de preparação para conter eventuais ataques ou se proteger de operações policiais.
O Ministério Público do Rio descobriu detalhes da rede de corrupção com pagamento sistemático de propina a agentes do estado. O grupo paramilitar tem acesso até as escalas de serviço de policiais militar e informações internas de inteligência.
No celular de Rodrigo do Santos, o Latrel, os promotores encontraram uma conversa que indica o pagamento para uma das bases do Batalhão de Policiamento em Vias Especiais, no valor de R$ 1.900,00 por semana. O recebimento dos valores foi confirmado por uma pessoa identificada como ''patrícia pmerj'', na agenda de contatos de um miliciano.
Segundo a promotora Roberta Laplace, os criminosos conseguem dar ordens mesmo depois de presos.
Os promotores classificam como estarrecedora a listagem de estabelecimentos em áreas dominadas pela milícia que pagam taxas. Os maiores valores são pagos por donos de postos de combustíveis, tabelados na faixa de R$ 500,00. Uma fábrica de telha paga R$ 400,00 por mês, enquanto um estabelecimento de concreto precisa pagar R$ 350,00 mensalmente.
Outros comércios, como bares, empresas de fornecimento de gás, oficinas, ferros-velhos, barbearia, esmalterias, depósitos e padarias pagam entre R$ 10,00 e R$ 250,00. As cobranças costumam ser semanais.
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Cinco meses antes do homicídio do ex-vereador do Rio, Jerominho, integrantes da milícia do Zinho trocaram mensagens a respeito de um possível plano do político para matar o chefe da quadrilha, Luis Antônio da Silva Braga, e o braço-direito dele, conhecido como Latrel. As execuções estariam sendo articuladas pelo próprio Jerominho e comparsas com o objetivo de voltar a dominar parte da Zona Oeste. O ex-vereador foi assassinado no dia 4 de agosto deste ano.
Segundo o MP, a milícia utiliza um sistema privado de dados pessoais de brasileiros, que registra informações como CPF, documentos, endereço, telefones, vínculos empregatícios, entre outros.
Além disso, o grupo paramilitar recebe também informações privilegiadas de agentes das forças de segurança do estado que atuam no sistema carcerário. Em um dos exemplos citados na investigação do MP, uma fotografia do rosto de um criminoso rival foi extraída do sistema oficial de banco de dados da secretaria de estado de administração penitenciária, que pode ser acessada por policiais militares, civis ou penais.
Foi por conta da suspeita de corrupção envolvendo as forças de segurança estaduais que o MP pediu para que a PF comandasse a investigação contra a quadrilha, além dos indícios de que a atuação do grupo já tem impacto interestadual. Há menções a rede de corrupção em várias mensagens trocadas entre os criminosos que foram encontradas no celular do paramilitar Rodrigo dos Santos. Conhecido como Latrell, ele foi preso em São Paulo, em março, e é apontado como um dos chefes da organização criminosa.
A investigação do MP e da PF culminou na realização da Operação Dinastia, nesta quinta-feira (25), com a prisão de oito pessoas.
Entre elas está um dos homens fortes da quadrilha, Geovane da Silva Mota, o GG, que foi localizado em um hotel de luxo em Gramado, no Rio Grande do Sul. Zinho não foi encontrado.
Os investigadores acreditam que a milícia esteja por trás da morte do ex-vereador e miliciano Jerônimo Guimarães Filho, conhecido como Jerominho.
O assassinato teria sido planejado depois que Zinho descobriu de articulações para sequestrar a filha dele e matá-lo, de acordo com a promotoria.
A atual gestão da Secretaria de Administração Penitenciária apoia e colabora com o Ministério Público, sempre que solicitada.
Em nota, a Polícia Civil disse que nos últimos dois anos prendeu mais de 1.200 milicianos, dando prejuízo de cerca de R$ 2,5 bilhões para as milícias.
A PM disse que todas as denúncias envolvendo policiais militares são devidamente apuradas quando chegam ao conhecimento da Corregedoria Geral da Corporação. A corporação lembra que a 8ª DPJM, unidade especializada da CGPM, foi criada pelo Comando da PM justamente para conduzir inquéritos relacionados a narcomilícias, reforçando o apoio a outras instituições, entre as quais o Ministério Público e a Polícia Civil.
*Estagiário sob supervisão de Luanna Bernardes