As investigações do Ministério Público do Rio revelaram que o delegado Antonio Ricardo Lima Nunes foi uma das autoridades policiais que teria recebido pagamento de propina do contraventor Fernando Iggnácio, morto em 2020 num heliponto em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio. Ele foi um dos alvos de mandado de busca e apreensão da Operação Águia na Cabeça, na sexta-feira (9), que terminou também com a prisão do ex-secretário de Polícia Civil Allan Turnowski e de um novo mandado de prisão contra o delegado Maurício Demétrio, que já estava preso.
De acordo com a denúncia do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Antonio Ricardo teria recebido R$ 150 mil do bicheiro para conseguir a transferência de Celso Luis Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, para presídio federal, em setembro de 2017. O traficante é uma antiga chefia da facção Amigo dos Amigos (ADA).
A suposta negociação foi citada por Maurício Demétrio em um áudio para outra pessoa.
A transferência, segundo o MP, ocorreu após o também delegado Maurício Demétrio conversar com colega, a pedido de Fernando Iggnácio, por causa de um suposto desligamento de máquinas caça-níqueis do bicheiro que estavam instaladas na área de atuação do traficante.
A denúncia afirma que Demétrio induziu Antônio Ricardo, que na época era titular da Delegacia da Rocinha (11ª DP), a se aproveitar da guerra entre traficantes na comunidade da Zona Sul do Rio, que na época era um reduto da ADA, para conseguir, de modo ilegal, concretizar a ameaça feita anteriormente e transferir, de fato, Celsinho para unidade prisional federal de segurança fora do Estado do Rio.
Ainda de acordo com a denúncia, apesar de não haver menção a Celsinho nos autos da investigação sobre a guerra em questão, Antonio Ricardo representou pela prisão temporária usando como fundamento apenas a "teoria do domínio final do fato".
O delegado Antonio Ricardo afirma que há provas materiais e testemunhas no inquérito sobre a guerra da Rocinha que comprovam que Celsinho estava envolvido na disputa entre traficantes rivais.
"Eu tenho uma prova científica, uma impressão digital de um criminoso na cena do crime. Essa impressão digital foi coletada em um veículo que participou dessa invasão e essa pessoa dona dessa digital prestou declarações que foi enviado para a Rocinha pelo Celsinho da Vila Vintém. Se eu fiz isso de verdade, era para ter colocado o criminoso em liberdade. Se ele foi preso injustamente ele deveria ter sido posto em liberdade. Além disso eu não tinha alçada para transferir ninguém, a transferência era feita na época pelo secretário de segurança", garantiu.
Os documentos, no entanto, não foram apresentados porque estão na justiça, segundo o delegado.
Antonio Ricardo ainda explica que na denúncia do Ministério Público não há nenhum áudio dele que mostre ele negociando nenhum tipo de propina.
"Eu sou acusado de corrupção ativa e passiva, ou seja, eu teria recebido R$ 150 mil. Mas em nenhum momento tem um áudio meu, um texto comprometedor. Não tem nada. É o Maurício falando de uma terceira pessoa de mim. Isso é uma covardia que estão fazendo comigo, é uma acusação injusta", garante o delegado.