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Diversos fatores contribuíram para tragédia de Petrópolis, apontam especialistas

Há um mês, a cidade da Região Serrana registrou o pior temporal da história da cidade

Priscila Xavier

Em 35 anos, as áreas ocupadas irregularmente na Cidade Imperial mais que dobraram
Em 35 anos, as áreas ocupadas irregularmente na Cidade Imperial mais que dobraram
Agência Brasil

Ausência de protocolos, construções ilegais, estreitamento de rios. Especialistas apontam para diversos fatores que contribuíram para a tragédia de Petrópolis. As chuvas que atingiram o município no mês passado, protagonizaram o pior temporal da história da cidade: em apenas seis horas, foram quase 260 milímetros. 

De acordo com o Plano Municipal de Risco de Petrópolis, os relatos de movimentos de massa são recorrentes desde a década de 40 do século passado. 

Segundo a geóloga Camila Betella, a região é suscetível a esse fenômeno, mas as ocupações urbanas irregulares intensificam o problema.

Em 35 anos, as áreas ocupadas irregularmente na Cidade Imperial mais que dobraram. Só no Morro da Oficina, epicentro da tragédia, esse crescimento foi de 112%, sendo 80% antes de 2007.

Segundo o estudo, divulgado pelo MapBiomas, com base nas imagens de satélites do IBGE, a maior parte dessas construções está localizada em regiões precárias e com risco de desabamento.

Em dezembro de 2016, durante o mandato anterior de Rubens Bomtempo, o atual prefeito, cerca de 700 casas no Morro da Oficina foram regularizadas. Na época, a comunidade já era tida como área de risco de deslizamento. O projeto foi embargado, em 2018, na gestão do então prefeito Bernardo Rossi.

Para o professor de engenharia Cartográfica da Universidade Federal da Bahia e coordenador do estudo do MapBiomas, Julio Cesar Pedrassoli, o movimento para regularização de residências mostra a ausência de seriedade nas políticas habitacionais do município. 

Em 2017, o Plano Municipal de Redução de Risco já apontava que mais de 28 mil moradias estavam em áreas de risco alto ou muito alto, o que representava, na época, um terço da área total da cidade.

O crescimento urbano irregular, consequentemente, estrangulou as bacias hidrográficas do município. Em 170 anos, a bacia do Rio Quitandinha - onde dois ônibus afundaram durante o temporal - teve a largura diminuída de 33 para 14 metros. 

O mesmo ocorreu com os rios Piabanha, que teve redução de 12 metros, e o Palatino, que ficou nove metros mais estreito. Entre 2011 e 2018, pesquisadores da UFRJ identificaram 86 inundações, somente na bacia do Rio Quitandinha.

Para o pesquisador do Laboratório de Cartografia da Universidade e autor do estudo, Manoel do Couto Fernandes, houve uma naturalização das inundações dos rios da região.

O ex-presidente do Instituto Estadual do Ambiente e professor de direito Ambiental Marcus Lima destaca que muitas mortes poderiam ter sido evitadas se houvesse um protocolo de esvaziamento da população também das vias públicas, que foram inundadas.

A BandNews FM pediu à Prefeitura de Petrópolis uma entrevista com algum porta-voz da Secretaria de Defesa Civil, mas não recebeu resposta. O Município também não informou se já adotou alguma ação para reduzir os impactos em caso de um novo temporal.

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