Levantamento aponta baixo funcionamento das escadas rolantes da SuperVia

Dos 34 equipamentos espalhados pelas estações, aproximadamente 65% não operaram no mês passado

Por João Boueri

Levantamento foi feito pela BandNews FM Reprodução/Redes Sociais
Levantamento foi feito pela BandNews FM
Reprodução/Redes Sociais

A escada rolante da estação do Méier da Supervia, na Rua 24 de Maio, na Zona Norte, funcionou apenas por seis dias entre setembro de 2021 e agosto deste ano. Essa é uma das mais importantes do local, por ser a mais próxima de um dos hospitais da rede privada mais procurados da região. Desde dezembro, a última vez que o equipamento operou foi em junho deste ano, com 13 horas acumuladas.

Outra escada rolante da estação, na Rua Arquias Cordeiro, registrou apenas 431 horas de uso regular, o que representa aproximadamente 23 dias de funcionamento. A estrutura também fica perto do Hospital Municipal Salgado Filho. A comparação realizada pela reportagem considerou o horário de abertura e fechamento atual da estação em dias úteis, conforme divulgado no site da SuperVia.

O local conta com mais quatro escadas rolantes, sendo duas para quem sai da estação e acessa as vias do bairro. Essas contabilizam entre 32 e 33 dias de funcionamento no período de 12 meses. As outras duas estão dentro da estação para acessar a plataforma, que registraram funcionamento operação entre 20 e 33 dias em um período de um ano.

O levantamento foi realizado pela BandNews FM a partir de dados da concessionária.

A Câmara de Transportes e Rodovias, braço da Agetransp, recomendou a abertura de processo regulatório por parte da agência para apurar possível descumprimento contratual da SuperVia a respeito do funcionamento das escadas rolantes da Estação do Méier. No entanto, a Agetransp disse que nenhum processo foi aberto e que a fiscalização é feita diariamente.

A BandNews FM denuncia há anos a situação dos equipamentos. Pelo menos desde 2010, os passageiros reclamam do mau funcionamento das escadas rolantes da estação da Zona Norte da cidade na internet. Um usuário chegou a criar um perfil em 2019 para informar se os equipamentos estavam ou não em operação. Neste momento, as seis escadas rolantes da estação estão inoperantes e não há previsão para o restabelecimento do funcionamento.

A reportagem conversou com passageiros do sistema de transporte que frequentam a Estação do Méier. O relato é o mesmo: o problema sempre existiu.

''Eu tenho observado que tem mais ou menos 1 mês ou até mais que nenhuma escada está funcionando. Eu não sabia que causava tanto transtorno, mas agora tem sido frequente. É mais fácil ver a escada fechada do que aberta.'' disse a passageira Fernanda Barcelos.

Luiz Miguel, de 29 anos, classificou a situação como um ''absurdo".

''Eu uso a estação desde 2014 e esse problema acontece toda hora. Eu mesmo já reclamei com os agentes da SuperVia e a desculpa é sempre do tempo ou de falta de peça. Sem contar que não tem acesso para deficiente ou idoso.'' afirma o morador do bairro.

De acordo com o assistente jurídico Wagner Nunes é necessário andar até a outra extremidade da estação para utilizar a escada comum.

''Isso dificulta a utilização da estação por diversas pessoas. Além disso, tem a demora para descer na hora de pico porque as pessoas se aglomeram para utilizar a escada normal em vez de também utilizar as duas escadas rolantes que dá acesso às ruas do bairro, que estão sem funcionar. Eu já cheguei a ficar mais de dez minutos para sair da estação do Méier.'', disse o passageiro.

A situação não é diferente em outras estações. A de Madureira, por exemplo, conta com sete escadas rolantes. Cinco delas registraram funcionamento apenas entre 36 e 49 dias aproximadamente no mesmo período de 12 meses. Em agosto deste ano, nenhuma funcionou.

Das 34 escadas rolantes espalhadas em dez estações do sistema, aproximadamente 65% não operaram no mês passado.

De 2015 a 2019 a média de gasto da Supervia com materiais, equipamentos e veículos foi de R$ 25.232. No entanto, em 2020, a concessionária reduziu o custo em cerca de R$ 7.700, de acordo com balanço financeiro divulgado pela Agetransp. Ao mesmo tempo, o faturamento anual bruto da concessionária em média de 2015 a 2019 foi de cerca de R$ 654 milhões. No ano seguinte, a SuperVia faturou cerca de R$ 462 milhões.

Outro caso de funcionamento indevido de equipamentos de acessibilidade pode ser encontrado na Estação Pavuna do MetrôRio. O elevador destinado a pessoas com dificuldade de locomoção, que ficou desligado entre abril e o dia 17 de setembro, voltou a ser fechado pela concessionária, segundo o auxiliar de escritório José Manoel.

''Depois de cinco meses, o elevador foi religado e já está quebrado novamente. Quem é cadeirante ou tem alguma deficiência física enfrenta dificuldades. É um absurdo. A passagem é cara e o serviço é ruim.'' disse o usuário da estação.

Desta vez, a Agetransp instaurou procedimento administrativo para apurar a irregularidade. O Ministério Público também acompanha o caso. A justificativa do MetrôRio é de que supostos atos de vandalismo ocorrem com frequência, além de mau uso do equipamento.

A Agetransp recebeu 171 reclamações referentes a escadas rolantes ou elevadores desligados em estações do MetrôRio de janeiro a agosto deste ano.

Em nota enviada em reportagens anteriores no início de agosto sobre a Estação do Méier, a SuperVia disse que a empresa responsável pela manutenção das escadas estava providenciando a aquisição das novas peças. No entanto, o cenário não foi alterado. Em novo comunicado, a concessionária disse que ainda aguarda a chegada dos itens importados para que os reparos sejam concluídos. A SuperVia diz ainda que vai começar no ano que vem obras para garantir acessibilidade em todas as 104 estações de acordo com a necessidade de cada uma. A empresa garante também que fará melhorias de acessibilidade em 20 composições de responsabilidade da concessionária.

Em debate realizado entre os candidatos ao Governo do Estado do Rio na noite desta terça-feira (27), o governador Cláudio Castro prometeu uma medida que classificou como ''enérgica'' caso a SuperVia não apresente melhoras no sistema de transporte até 30 de novembro deste ano, quando o Décimo Terceiro Termo Aditivo será debatido. Uma das discussões que deve ser abordada na reunião de novembro entre o poder concedente e a concessionária é sobre a prorrogação do contrato, previsto no Oitavo Termo Aditivo. Enquanto isso, a Secretaria de Estado de Transportes já iniciou conversas com o BNDES a respeito da concessionária, que está em recuperação judicial. A SETRANS pretende saber se o acordo com o banco confirma a viabilidade econômico-financeira da empresa. Outra questão que será discutida em breve pelo Governo e a SuperVia é o novo valor máximo da tarifa padrão a ser cobrado entre 2023 e 2024.

O MetrôRio disse que o elevador da estação Pavuna sofreu um ato de vandalismo nesta terça-feira (27) e, por conta disso, está passando por manutenção. A concessionária ressalta que, como alternativa de acessibilidade, os clientes podem utilizar a rampa de acesso à estação Pavuna. Questionada sobre prazo, a empresa não retornou.

A Agetransp foi questionada sobre a quantidade de multas aplicadas às concessionárias pelo mau funcionamento de escadas rolantes e elevadores, mas ainda não respondeu.

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