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Mandantes da morte de Marielle cogitaram que vítima fosse Freixo, afirma Lessa

Afirmação foi feita pelo ex-PM em colaboração premiada, homologada em março pelo STF

Por João Boueri

O ex-policial militar Ronnie Lessa afirmou que os mandantes do assassianto de Marielle Franco chegaram a cogitar a possibilidade da vítima do crime ser não a vereadora, mas o atual presidente da Embratur, Marcelo Freixo. A TV Globo teve acesso ao vídeo da colaboração premiada do réu confesso de atirar em Marielle e no motorista Anderson Gomes.  

A colaboração premiada de Ronnie Lessa foi homologada em março pelo Supremo Tribunal Federal. A defesa de Chiquinho Brazão afirmou que vai entrar com um pedido para que o STF desconsidere a colaboração.

Nela, Ronnie afirmou que tentou convencer os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão a desistirem do crime contra Freixo, por causa do grande número de seguranças que andavam com o político.  

Marielle chegou a ser assessora de Marcelo Freixo, conhecido pelo combate à milícia no Rio de Janeiro.

Na colaboração, Ronnie Lessa disse ainda que Marielle seria uma "pedra no sapato" para o grupo, já que ela estava em contato com lideranças comunitárias de Jacarepaguá para "melar" um esquema de regularização de terrenos em favelas da Zona Oeste do Rio. A atuação de Marielle contra loteamentos irregulares nas áreas onde os irmãos Brazão têm influência teria motivado o crime. Na denúncia oferecida, a Procuradoria Geral da República disse que a vereadora se tornou a principal opositora dos interesses econômicos dos irmãos e "matá-la significava eliminar de vez o obstáculo e, ao mesmo tempo, dissuadir outros políticos do grupo de oposição".

Além de confessar o crime, durante a colaboração, Lessa disse que se tornaria um dos chefes de uma nova milícia na Zona Oeste da capital fluminense, como recompensa.  

O ex-PM também destacou que ganharia um terreno em Jacarepaguá, na mesma região, no valor de R$ 100 milhões.  

A Polícia Federal apontou que houve obstrução nas investigações do caso por um esquema criminoso montado dentro da Polícia Civil pelo ex-chefe da instituição Rivaldo Barbosa. Os documentos mostram que o delegado negociava com contraventores e milicianos. Os valores variavam de 60 mil a 300 mil reais.

Ele teria recebido pagamentos para atrapalhar as investigações antes mesmo da morte de Marielle, segundo Lessa.  

De acordo com a PF, o jeito encontrado para atrapalhar o curso das investigações foi implantar uma testemunha falsa. O PM Rodrigo Ferreira, o Ferreirinha, teria apontado Marcelo Siciliano e Girão como os mandantes da morte de Marielle, a pedido de Orlando Curirica. Tudo isso para desviar o foco das investigações. Na época, Curirica pediu para ser ouvido pelo Ministério Público e disse que estava sendo pressionado pela polícia para assumir a autoridade do crime.

Os encontros de Ronnie Lessa com os irmãos Brazão aconteciam sempre em uma avenida na Barra da Tijuca, também na Zona Oeste do Rio. A preferência da "reunião" durante a noite era um pedido da família para evitar "alarde". Ronnie Lessa afirmou que o ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Domingos Brazão falava mais do que o deputado federal Chiquinho Brazão.

De acordo com o relatório da Polícia Federal sobre o inquérito, Lessa informou que a submetralhadora (HK MP5) teria sido emprestada em setembro de 2017 por milicianos e deveria ser devolvida após a execução, o que teria acontecido em abril de 2018, um mês depois dos assassinatos na Região Central da capital fluminense. Segundo o ex-PM, após reunião com os irmãos Brazão, Domingos Brazão disse que a arma deveria ser recolocada no lugar, sem especificar qual.

Já a linha de investigação da Polícia Civil era que a submetralhadora teria sido jogada no mar da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. A informação foi dada por uma testemunha, que contou ter tido o barco contratado por uma pessoa de confiança de Lessa.

Durante a colaboração premiada, Ronnie Lessa ressaltou que não concordou em devolver a arma utilizada nos assassinatos, mas que isso foi feito por Edmilson da Silva Oliveira, o Macalé, intermediário do crime. Ele teria entregado o armamento dentro de uma bolsa aos milicianos. No mesmo dia, de acordo com Lessa, as sobras de munições das execuções teriam sido jogadas em um rio que teve o curso d'água ampliado, em Rio das Pedras, na Zona Oeste da capital fluminense, o que inviabilizou as buscas pelos investigadores. A arma utilizada no crime nunca foi encontrada.

Segundo o portal G1, Ronnie Lessa disse também que todos os milicianos que atuam no Rio de Janeiro contratam o serviço de um topógrafo, Anderson Pereira Belém, para checar se os terrenos pretendidos para loteamento irregular são estáveis. O profissional também indica onde devem permanecer as estacas dos imóveis.

Além disso, durante a colaboração premiada, o réu confesso destacou a participação de um despachante apelidado de "Geleia", que legalizava os documentos dos loteamentos. O pagamento era de acordo com o tamanho dos terrenos e variava entre R$ 50 mil e R$ 100 mil.  

Os irmãos Brazão e o ex-chefe de Polícia Civil Rivaldo Barbosa foram presos no dia 24 de março, acusados de envolvimento no crime pela Polícia Federal.

Em nota, a defesa de Ronnie Lessa disse que foi surpreendida com a divulgação do vídeo da colaboração premiada e que se preocupa com a indevida veiculação de informações que fazem parte da colaboração, que tramita sob sigilo no Supremo Tribunal Federal. 

A BandNews FM tenta contato com as defesas dos demais citados.

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