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Longe do piano, Abel Braga critica arbitragem, faz planos e reage: ‘sou grande, não sou qualquer um’

Da Redação, com Rádio Bandeirantes

Abel Braga no jogo contra o Corinthians, o último do técnico no comando do Inter
Abel Braga no jogo contra o Corinthians, o último do técnico no comando do Inter
Max Peixoto/DiaEsportivo/Folhapress

Pouco mais de uma semana depois da perda do título brasileiro com o Internacional, Abel Braga ainda tenta fechar as feridas. Sem clube, gasta o tempo caminhando na praia e lendo livros – o último foi “A filha favorita”, da afegã Fawzia Koofi. O piano, velho companheiro, tem ficado de lado.

“O piano agora me dá uma certa tristeza”, conta o técnico a Fernando Fernandes e Vinícius Batista, na Rádio Bandeirantes. O motivo: as lembranças do filho, João Pedro, que morreu aos 19 anos, em 2017, ao cair da janela do banheiro de casa no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro.

A tragédia familiar foi seguida por trabalhos de resultados pouco expressivos – incluindo uma saída magoada e turbulenta do Flamengo em 2019. A fase reforçou o estigma de que a carreira estava acabada. Até levar o Inter a um surpreendente e doído vice-campeonato brasileiro em fins de fevereiro último. Justo o Colorado, clube com o qual ganhou Libertadores e Mundial e se tornou ídolo. Dado como acabado para o futebol, Abel desabafa.

“Eu sou grande, não sou qualquer um. Não caí de paraquedas lá. Por isso eu lamento tanto não ter ganhado esse Brasileiro”, diz o técnico, que se tornou o treinador com mais jogos no comando do Inter: 340.

“Nesse ano que conquistei esse título de treinador que mais dirigiu o clube, e ser campeão brasileiro depois de 41 anos... Você não pode imaginar o que é isso”, continua.

“Eu sou muito melhor do que era antes, porque vivi situações incríveis dentro do futebol. Vivi uma situação que tive que me superar na minha vida pessoal. Como eu vou ficando velho e vou desaprendendo? São 27 títulos conquistados. Não é à toa”, completa.

“Vida que segue”

Na bronca com a arbitragem da reta final do Brasileirão, Abel reclama ainda da expulsão de Rodinei, na derrota para o Flamengo, que custou a liderança do campeonato. E critica o apito pela atuação no último jogo, no empate com o Corinthians, levantando suspeitas, mesmo medindo as palavras.

“Tem coisa que você não percebe. O cara para teu jogo, para teu ataque...”, diz Abel, encerrando o assunto com a frase “vida que segue”.

A vida, aliás, tem sido de pouca exposição por causa da pandemia. Abel teve Covid-19 e não teve sintomas, mas mostra preocupação e prevê uma nova paralisação do futebol. O técnico concorda com o colega Lisca, que discursou pela parada dos jogos.

“Noventa por cento das viagens que o Inter fez foram em voo fretado, mas não é todo clube que pode fazer isso. Ele [Lisca] está correto. Vai sair daqui para jogar em Manaus? Não dá”, afirma Abel, que lamenta ainda não poder viajar para a Itália para conhecer novos vinhos da região da Toscana. “Isso que eu quero, isso que eu gosto”, diz.

Planos

Agora o treinador faz planos. Todos ainda passam por continuar trabalhando. E no futebol. O esporte, aliás, o ajudou a superar a perda do filho.

“[A força] Veio principalmente família e amigos, mas a bola naquele momento era quase um refúgio. Você tem que tentar ajudar a si mesmo, porque essa dor não sai. Não tenho mais o que fazer. Saudade, lamentar, não esquecer jamais, mas saber que esse vazio será eterno”, declara.

E o piano só é tocado por algum pedido especial das visitas em casa. “Quando meu filho estava aprendendo violão, era menino, ele tocava violão, e eu, piano. Eu sento [ao piano] e me dá uma coisa...”, conta.

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