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Polícia apreende lancha de empresário investigado por morte de líder do PCC

Segundo a polícia, Anselmo "Cara Preta" passou um dia na embarcação pouco antes de ser morto junto o comparsa "Sem Sangue"

Kelly Dias

Policiais do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) apreenderam uma lancha Cimitarra avaliada em R$ 2,5 milhões. A embarcação pertence a Antônio Vinícius Gritzbach, empresário do ramo imobiliário com fortuna avaliada em R$ 300 milhões. Ele foi preso na última semana por suspeita de ter participado da morte de Anselmo Santa Fausta, o “Cara Preta”, um dos líderes da facção criminosa PCC, e seu comparsa Antônio Corona Neto, o “Sem Sangue”, no fim de dezembro de 2021, em São Paulo.

Ainda segundo a polícia, antes de ser morto, “Cara Preta” passou um dia na lancha.

O barco estava em marina na cidade de Guarujá, no litoral de São Paulo. A apreensão foi realizada por policiais da 6ª Delegacia Patrimônio (Investigações sobre Facções Criminosas). A equipe também apreendeu a documentação da lancha.

Outra descoberta foi a constatação da retirada do equipamento de GPS (Global Positioning System). Isso permitia que a embarcação navegasse como um barco fantasma. 

Uma investigação do DHPP aponta que os empresários Antônio Vinícius Gritzbach e Pablo Henrique Borges chegaram a lavar cerca de R$ 2 bilhões para o PCC em imóveis e criptomoedas. Mas, por algum motivo que a polícia ainda não conhece, “Cara Preta” exigiu a devolução de US$ 20 milhões (aproximadamente R$ 100 milhões) e fez ameaças. Este teria sido o motivo da execução do megatraficante, em uma trama de cifras bilionárias.

Grizbach teria sido sequestrado por outros quatro empresários ligados ao PCC pouco menos de um mês após a morte de Santa Fausta, onde teria sido mantido em cativeiro por várias horas. Ele deixou o local com vida, mas um dos sequestradores que defendeu sua versão da história sobre o valor milionário foi morto pouco tempo depois.

A informação sobre a amizade entre Grizbach e David Moreira da Silva, de 38 anos foi negada pelo agente penitenciário. Ele foi preso na tarde do último domingo (20) e disse em depoimento que apenas conhecia o empresário. David foi preso assim que desceu do avião, no aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo. 

Ele é acusado de ter recebido R$ 100 mil para contratar um matador de aluguel para executar Anselmo. Para a polícia, David é investigado por ser a ponte entre os mandantes e os assassinos. Ele teria recebido sua parte do pagamento e pago R$ 200 para a dupla executar o crime. 

Um dos assassinos contratados foi identificado como Noé Alves Schaun, que acabou decapitado e tendo sua cabeça deixada em uma praça do bairro do Tatuapé. Segundo as investigações, David conhecia o executor desde a infância por terem crescido no mesmo bairro.

Outro dos envolvidos na morte de Noé, o agente de jogadores de futebol, Carlos Almeida, conhecido como Django, também foi executado. Ele estava entre os empresários que sequestraram Vinícius cobrando a morte de “Cara Preta” e teria sido morto pelo Tribunal do Crime porque defendeu Vinícius no cativeiro.

Os outros empresários apontados por ligação com as execuções de Cara Preta e “Sem Sangue” continuam foragidos. São eles: Robinson Moura, dono de um restaurante no bairro do Tatuapé; Rafael Maeda, investidor em uma empresa de marketing esportivo; e Danilo Lima, o “Tripa”, empresário de jogadores de futebol.

Vídeo: dívida de R$ 100 milhões seria motivação do crime

O crime

Imagens de câmeras de segurança mostraram o momento que o carro de "Cara Preta" e seu comparsa Antônio Corona Neto, o “Sem Sangue”, foi atingido por diversos disparos de arma de fogo no final de dezembro do ano passado no Tatuapé, zona leste da capital paulista. Logo em seguida, a dupla responsável pelos tiros fugiu.

A morte de Cara Preta, no fim de dezembro de 2021, desencadeou uma série de outros crimes. Semanas após a execução, dois corpos foram encontrados decapitados ao lado de bilhetes que sugeriam um acerto de contas pela morte do chefe do PCC.

“Cara Preta” estaria envolvido em roubo de aeroporto e tráfico internacional

Investigações sobre o roubo de 770 quilos de ouro no aeroporto de Guarulhos, em 2019, apontam que “Cara Preta” financiou aquela ação. Parte da quadrilha envolvida no roubo milionário foi presa, e alguns integrantes foram até condenados pelo roubo da carga, hoje avaliada em mais de R$ 250 milhões. 

De acordo com o Ministério Público, o traficante morto era peça chave da logística do tráfico internacional de drogas e responsável pela rota da cocaína entra a Bolívia, o Brasil e a Europa a partir do Porto de Santos (SP). É o setor mais lucrativo dentro do crime organizado, que deu fortunas a nomes como Gegê do Mangue, André do Rap e Anderson Gordão.

Apesar da posição de destaque no crime organizado, “Cara Preta” foi preso poucas vezes, e sempre por crimes menores. Era considerado pela polícia um alvo difícil, por ser um criminoso discreto. 

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