Pazuello usa fato de ser general para evitar depor e constrange Exército, diz Renan

Ex-ministro da Saúde teve participação adiada e só irá depor no dia 19

Da Redação, com BandNews TV

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) não tem pressa para ouvir o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello na CPI da Covid-19. Relator da Comissão no Senado, Renan explicou nesta quarta-feira (5) que a investigação vem tomando cuidados “para que não tenhamos mais problemas”.

“Nós tínhamos uma expectativa muito grande sobre seu depoimento nesta semana. Vamos ter que esperar para o dia 19, mas nós temos paciência. Nós não poderíamos era fazer um depoimento improvisado, correndo o risco de não termos a resposta que pretendemos ter nesse depoimento do dia 19”, afirmou, em entrevista ao programa Ponto a Ponto da BandNews TV.

Pazuello falaria à CPI nesta quarta, mas alegou ter tido contato com pessoas diagnosticadas com a Covid-19 e pediu o adiamento do depoimento. Em seu lugar, falou Nelson Teich, o antecessor no cargo.

Apesar da compreensão, Renan deixou claras suas críticas ao adiamento do depoimento.

“Bastava somente que ele fizesse um teste da Covid. Ele não precisaria entrar em quarentena, desde que ele quisesse colaborar. Sei que ele está sendo treinado, fazendo media training; é importante que ele faça isso para treinar o interrogatório, no sentido que sua colaboração seja efetiva”, afirmou o senador alagoano.

Renan ainda descartou a possibilidade de que a presença do general Eduardo Pazuello entre os depoentes da CPI possa ter causado algum mal-estar entre o Exército e o Senado.

“O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, senador Omar Aziz (PSD-AM), falou em algumas oportunidades com o comandante do Exército (general Paulo Sergio Nogueira de Oliveira)”, disse Renan Calheiros. “Acho que o Exército deve estar constrangido, porque o Eduardo Pazuello tem usado o fato de ser um general da ativa exatamente para impedir que ele vá depor.”

Jair Bolsonaro e a CPI

Renan Calheiros ainda reforçou a promessa que a CPI não tem como objetivo investigar pessoas ou instituições específicas, mas apurar fatos já conhecidos ao longo da condução da pandemia do novo coronavírus no Brasil.

A comissão é alvo de crítica de governistas por, supostamente, ter como alvo o governo federal. O discurso do relator, no entanto, é de imparcialidade e impessoalidade.

“Desde que a Comissão Parlamentar de Inquérito nos leve à necessidade de responsabilizar alguém, seja quem for, nós vamos fazer isso. É o nosso papel. A investigação é uma investigação com competência judicial, na forma que estabelece a constituição”, disse Renan, lembrando que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não será chamado a depor.

“Nós não poderemos convocar o presidente. Temos um impedimento legal para isso. Mas do ponto de vista da própria investigação, nós, na verdade, torcemos para que o presidente da República demonstre que fez tudo certo, que não desprestigiou o isolamento social, de que fez uma comunicação com o ministério em defesa da máscara, das medidas de proteção sanitárias.”

O senador, no entanto, admitiu que filho do presidente, Carlos Bolsonaro, pode ser chamado - especialmente após depoimentos do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta citando influências da família de Bolsonaro no combate à pandemia.

“É possível. Talvez não seja interessante neste momento, porque nós não queremos pessoalizar a investigação. Uma das narrativas dos governistas é exatamente essa, que nós queremos desgastar o presidente da República”, lembrou. “Não é isso que se quer.”

Depoimentos de ex-ministros

A CPI contou com depoimentos dos ex-ministros Luiz Henrique Mandetta, na terça-feira (4), e Nelson Teich, na quarta (5). E Renan Calheiros ficou satisfeito com o conteúdo apresentado por ambos.

“Os dois depoimentos, tanto do Mandetta quanto do Teich, foram espetaculares porque confirmaram fatos. Não vamos investigar pessoas ou instituições, vamos investigar fatos”, reforçou.

O relator destacou em especial a participação de Mandetta, que falou sobre questões como a proposta da defesa da hidroxicloroquina, do chamado “tratamento precoce” e, nas palavras do senador, “da maneira como o Ministério da Saúde foi desprestigiado nesse processo que objetivava transformar o uso da cloroquina em política pública, com dinheiro público”.

Nesta quinta-feira (6), serão ouvidos Marcelo Queiroga, titular do Ministério da Saúde, e Antonio Barra Torres, presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Para Renan, o dia deve ser novamente positivo.

“Esses dois dias foram favoráveis, além de qualquer expectativa que havia, e amanhã vamos ter um dia muito bom", afirmou o senador - que não acredita, porém, que novos fatos surgirão ao longo da CPI.

“Nós temos um plano com começo, meio e fim, e com as pessoas que devermos ouvir já estabelecidas. Poderemos acrescentar uma ou outra. Ao fim e ao cabo, é a investigação que definir os limites e os objetivos da própria investigação. Mas provavelmente não vamos ter fatos novos.”

‘Sinais contrários’

Renan defendeu a imparcialidade da CPI, mas não deixou de fazer críticas à atuação do governo federal. Nesta quarta-feira, o presidente Bolsonaro falou na possibilidade de uma “guerra química, bacteriológica e radiológica”, e insinuou que o vírus responsável pela Covid-19 poderia ter sido criado em um laboratório chinês.

Para Renan Calheiros, a postura de Bolsonaro “deve dificultar” a relação com a China, justamente no momento em que o Brasil depende do país asiático para a fabricação de vacinas.

“A China é o maior parceiro comercial do Brasil, e esses gestos repetidos nas relações internacionais têm provavelmente uma consequência muito grande”, analisou o senador, demonstrando contrariedade às posturas inconstantes de Bolsonaro.

“O presidente, infelizmente, segue dando sinais contrários. Se por um lado, ele diz que quer conversar com a Comissão, faz um telefonema pra mim (...), na mesma oportunidade você tem entrevistas como aquela do ministro da Justiça à revista Veja, de ameaça, de insinuação.”

Na entrevista em questão, o ministro Anderson Torres afirmou que “a gente tem de ter muito cuidado com os rumos que essa CPI vai tomar”. “O povo brasileiro é quem vai sair perdendo se houver uma CPI apenas com objetivos políticos nessa altura do campeonato, com a população sofrendo, com pessoas morrendo pela Covid”, declarou.

Renan Calheiros assegurou que “essa comissão é composta por quadros políticos experientes”. E contra-atacou, rebatendo uma possível tentativa de aparelhamento da Polícia Federal a partir do Ministério da Justiça.

“Não é fácil você estar à frente do Ministério e querer instrumentalizar a Polícia Federal. Acho que isso não vai acontecer. Eles podem tentar, acho que tentam todos os dias. A entrevista do ministro é um indicativo lamentável disso. Mas acho que eles não conseguirão”, afirmou.

Bolsonaro x Lula

Com a aproximação das eleições de 2022, Renan Calheiros analisou de maneira prévia um confronto entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa pela Presidência da República. Para o senador, os dois devem concentrar votos, fazendo com que postulantes ao posto de “terceira via” compitam apenas entre si.

“Sinceramente, acho que vamos ter na próxima eleição a reprodução do quadro da eleição presidencial anterior. Em uma eleição que tem dois candidatos competitivos formando dois polos diferenciados, fica muito difícil o aparecimento de um terceiro candidato”, afirmou.

“Na medida em que você não tira voto nem de um lado nem de outro, a guerra a cada momento da campanha eleitoral ficará entre os candidatos do centro democrático, os candidatos daquele manifesto que aconteceu recentemente”, acrescentou, citando a carta divulgada no início de abril assinada por Ciro Gomes (PDT), Eduardo Leite (PSDB), João Amoedo (Novo), João Doria (PSDB), Luciano Huck (sem partido) e Luiz Henrique Mandetta (DEM).

Renan não quis revelar em quem votaria em uma eventual disputa entre Bolsonaro e Lula. E, por enquanto, também não citou em quem não votaria.

“É sempre muito mais fácil a gente dizer em quem não vai votar”, disse, afirmando que a resposta fica para depois. “Nessa condição de relator de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, mesmo sendo um exercício mais fácil (relatar em quem não vota), eu prefiro não fazer.”

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