Justiça do Rio determina retorno do traficante Marreta para presídio federal

Decisão considerou que criminoso tem "maior facilidade de comunicação com a organização criminosa" em presídio estadual.

Redação Band Rio

Justiça do Rio determina retorno do traficante Marreta para presídio federal
Marreta após prisão no Paraguai em 2014.
Divulgação

O traficante Luiz Claudio Machado, conhecido como Marreta, deverá retornar a um presídio federal. A decisão é da Vara de Execuções Penais do Tribunal de Justiça do Rio.

O juiz Marcel Laguna Duque Estrada atendeu ao pedido da Polícia Federal, da Secretaria de Polícia Civil e do Ministério Público do Rio destacando que Marreta, um dos chefes da facção Comando Vermelho, tem "maior facilidade de comunicação com a organização criminosa" em um presídio estadual.

A solicitação das forças de segurança usou como base um relatório da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado da PF.

Ele está em Bangu 1 desde outubro do ano passado quando conseguiu retornar ao sistema prisional fluminense. O magistrado estabeleceu o prazo de permanência em uma unidade federal por três anos.

Antes de retornar para Bangu, o criminoso estava na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, onde permaneceu por quatro anos.

No pedido para que o traficante volte para o sistema penitenciário federal, a Polícia Civil citou trechos de conversas interceptadas e gravadas do criminoso, ainda no presídio federal, que demonstraram risco à segurança pública em caso de sua permanência no Estado do Rio de Janeiro.

A Superintendência Regional da PF representou pela transferência urgente. O Ministério Público do Rio também foi favorável.

Nas conversas interceptadas pelo DEPEN, em setembro de 2023 (um mês antes de voltar para o Rio), Marreta articulou a compra de pelo menos 20 fuzis junto a outros integrantes da alta cúpula organização criminosa, entre eles Luiz Claudio Serrat Correa, vulgo Claudinho CL, Robson Aguiar de Oliveira, conhecido como Binho do Engenho, Alex Marques de Melo, o Léo Serrote, e Marcio dos Santos Nepomuceno, vulgo Marcinho VP, que também estão presos.

Confira trechos dos diálogos:

Marreta - "A minha pergunta é: qual é a melhor mercadoria forte do momento lá Serrat"?

CL - "Ele  tem tudo e aí se você pega com ele, ele te dá enxada, vassoura, picareta, martelo”.

Marreta - "E uma 'ARzinha'? Uma AR? Um 'M4zinho' tá quanto, Claudio"?

CL - “Setenta e cinco (mil), agora os AR. 75, entendeu"?

Marreta - "Eu gosto sim de calibre grosso, mas do jeito que tá o mercado lá em cima... pra mim vai cair igual aos 'RUG'. Umas 'R', eu fico de boa, entendeu"?

Segundo a PF, na última mensagem, o criminoso se refere às armas fabricadas pela Ruger, indicando que poderia optar por fuzis a serem adquiridos clandestinamente por preços mais baixos. As armas seriam usadas para defender territórios dominados pelo CV e em disputas com quadrilhas rivais.

Os áudios obtidos pelo DEPEN indicam ainda que um advogado integra a facção criminosa e executa comandos dos bandidos que estão em presídios estaduais bem como repassa ordens aos demais integrantes da organização criminosa.

O juiz Marcel Laguna determinou que o presídio federal para onde vai Marreta não seja o de Catanduvas.

O magistrado destacou que o retorno para Bangu trouxe o risco de facilitar a execução dos planos do traficante de expansão territorial da facção.

"Assim, mantê-lo no sistema prisional estadual, onde as facilidades, regalias e 'liberdades' são muito mais ‘elásticas’, poderá acarretar a potencialização do seu poder nefasto e, consequentemente, poderia gerar danos imensuráveis à segurança pública e à paz social, motivo pelo qual é imperiosa a reinserção deste apenado na segregação rigorosa do Sistema Penitenciário Federal", disse o juiz na decisão.

Marreta esteve a frente do comando do tráfico de drogas de várias favelas dominadas pelo CV nas Zonas Norte e Oeste do RJ durante os anos que antecederam sua prisão. Chegou a fugir do Complexo Penitenciário de Gericinó em fevereiro de 2013. Saiu do Brasil e passou a controlar as atividades do grupo direto do Paraguai. Foi acusado de ordenar ataques contra UPPs e policiais estando no país vizinho.

Só foi preso novamente em uma ação conjunta da Polícia Federal que contou com apoio da Secretaria de Segurança do Rio e da polícia paraguaia, em Assunção, em dezembro de 2014.

Mesmo na cadeia continua atuando como chefe do Comando Vermelho, segundo as autoridades, e está por trás de ordens para a expansão territorial da organização criminosa e confrontos com facções rivais em favelas das Zonas Norte e Oeste do Rio.