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Ataque a consulado, retaliação e nova ofensiva: a tensão entre Israel e Irã

Escalada entre os países começou após ataque ao consulado do Irã na Síria, que matou um general da Guarda Revolucionária iraniana. Teerã revidou e atacou Israel no último sábado (13)

Da Redação

Míssil lançado durante exercício militar em Isfahan, no Irã
Míssil lançado durante exercício militar em Isfahan, no Irã
WANA (West Asia News Agency)/Handout via REUTERS/Foto de Arquivo

Explosões foram ouvidas no Irã, nesta sexta-feira (19), em meio a um conflito do país com Israel. Inicialmente, testemunhas e a imprensa local reportaram o ataque em Isfahan. Depois, autoridades iranianas afirmaram que o barulho foi causado por um ataque “fracassado” de drones. 

A tensão entre os países se intensificou após o ataque israelense em 1º de abril ao consulado do Irã em Damasco, na Síria, deixando oito mortos, entre eles Mohamad Reza Zahedi, um general da Guarda Revolucionária iraniana. A retaliação de Teerã foi registrada no último sábado (13). 

Veja abaixo a linha do tempo da tensão entre Israel e Irã, que pode elevar a escalada das hostilidades no Oriente Médio, que já acompanha uma guerra em Gaza desde outubro do ano passado. 

Ataque a consulado

"Por volta das 17h (horário local, 11h de Brasília), o inimigo israelense realizou uma ofensiva aérea contra o prédio do consulado iraniano em Damasco", disse uma fonte militar não identificada à agência de notícias estatal síria Sana.

Segundo a agência, o ataque "destruiu completamente o edifício e afetou todos os que se encontravam no seu interior, resultando em mortos e feridos".

"O regime sionista (Israel) atua contra as leis internacionais, motivo pelo qual receberá uma dura resposta da nossa parte", afirmou em Damasco o embaixador do Irã na Síria, Hossein Akbari. O diplomata testemunhou da janela da embaixada iraniana o ataque contra o consulado, que, segundo ele, foi realizado com caças F-35 que dispararam seis mísseis contra instalações iranianas.

Na ocasião, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Hossein Amir Abdollahian, classificou o ataque ao consulado como "uma violação de todas as obrigações e convenções internacionais". "Enfatizo a necessidade de uma resposta séria da comunidade internacional a tais ações criminosas”, disse Abdollahian em um pronunciamento conjunto com seu homólogo sírio, Faisal Mekdad.

Naquela noite, o Irã disse ao Conselho de Segurança da ONU que tinha o direito de revidar. Israel não comentou e não assumiu responsabilidade pelo ataque. 

Retaliação do Irã 

Em resposta ao ataque ao consulado em Damasco, o Irã lançou na noite de sábado (13) um ataque a Israel com mais de 300 drones, mísseis de cruzeiro e balísticos, a grande maioria interceptados, segundo os militares israelenses.

As Forças de Defesa de Israel informaram que interceptaram com sucesso 99% dos 300 lançamentos iranianos de drones e mísseis. O aviso sonoro tocou no norte e no sul de Israel, na região do Mar Morto, na área de Shomron, e na região de Negev.

Uma base militar de Israel foi atingida, mas apenas houve pequenos danos estruturais. O posicionamento sinalizou o fim da ameaça representada pelos mísseis e drones iranianos.

Diversos países, como Reino Unido, França e Rússia, alertaram seus cidadãos para evitarem viagens a Israel, Irã, Líbano e territórios palestinos.

Oriente Médio à beira de um abismo

O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas realizou uma reunião de emergência no domingo (14) a pedido de Israel, horas após o ataque do Irã. Em discurso durante a sessão, o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou que o Oriente Médio está a beira de um conflito total

António Guterres, secretário-geral da ONU - REUTERS/Eduardo Munoz

Para o chefe da ONU, este é o momento de se “recuar do abismo” e que isso é “essencial para evitar qualquer ação que possa levar a grandes confrontos militares em múltiplas frentes no Oriente Médio”.

Para Guterres, os civis já estão suportando o peso e pagando o preço mais alto pela atual situação. Ao apelar pela responsabilidade coletiva do Conselho, o chefe da ONU disse que é preciso envolver ativamente todas as partes para evitar nova escalada, tal como prevê a Declaração de Relações Amistosas de 1970. O documento proíbe atos de represália com o uso da força sob o direito internacional.

O líder das Nações Unidas enfatizou que as populações da região enfrentam um perigo real de uma arrasadora situação de guerra total, ao enfatizar que é hora de desarmar e diminuir a escalada. Guterres declarou ainda que este é o momento de exercer máxima moderação.

O embaixador iraniano nas Nações Unidas, Amir Saeid Jalil Iravani, declarou que seu país "não teve outra escolha senão exercer o seu direito à autodefesa", ao justificar o ataque sem precedentes a Israel.

"O Conselho de Segurança falhou no seu dever de manter a paz e a segurança internacional" ao não condenar o ataque de 1º de abril ao consulado iraniano em Damasco, na Síria, declarou Iravani.

"Sob essas condições, a República Islâmica do Irã não teve outra escolha senão exercer o seu direito à legítima defesa", disse, garantindo que Teerã não quer uma escalada do conflito, mas responderá a "qualquer ameaça ou agressão".

Direito legal de responder, diz Israel

Reunião do Conselho de Segurança da ONU - David 'Dee' Delgado/Reuters

O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, sublinhou que seu país tem agora direito à retaliação, apesar dos apelos do secretário-geral e de todos os países para que ambos os lados se contenham, e pediu "todas as sanções possíveis" ao Irã, "antes que seja tarde".

Este ataque ultrapassou todas as linhas vermelhas, e Israel reserva-se o direito legal de responder.

"Depois de um ataque tão maciço contra Israel, o mundo inteiro, muito menos Israel, não pode ficar de braços cruzados. Defendemos o nosso futuro", continuou Erdan, que agradeceu especificamente aos Estados Unidos pelo seu apoio.

O gabinete de guerra de Israel se reuniu após o ataque, mas uma autoridade israelense disse à agência de notícias Associated Press que nenhuma decisão foi tomada. A agência de notícias Reuters informou que parece haver uma divisão no gabinete sobre o momento e a intensidade de uma resposta israelense.

Aliados pedem moderação 

De aliados, o irã possui a Rússia, que inclusive comprou drones para serem usados na Ucrânia, e a China, a maior compradora de petróleo e gás do país.

No Conselho de Segurança da ONU, em Nova York, Moscou e Pequim foram na contramão dos demais países. Não condenaram o Irã publicamente, mas preveem os riscos da escalada do conflito. Por isso, o pedido é de moderação.

O Ministério das Relações Exteriores da China disse que é necessária calma de ambos os lados e pediu pausa em novos ataques.

Resposta de Israel ao ataque iraniano 

Explosões foram ouvidas no Irã, nesta sexta-feira (19), em meio a um conflito do país com Israel. Os ataques aconteceram em Isfahan, província que fica a 450 quilômetros de Teerã, capital do Irã, onde existem bases militares. O governo do Irã confirmou à Reuters que o sistema de defesa aéreo precisou ser acionado. Israel ainda não se manifestou.

Todos esses conflitos têm relação com a guerra entre Israel e o Hamas e podem envolver mais países: a imprensa internacional relata que também aconteceram ataques contra Iraque e Síria nesta sexta-feira.

EUA dizem que estão comprometidos em diminuir as tensões 

“Não vou falar sobre isso, exceto para dizer que os Estados Unidos não estiveram envolvidos em nenhuma operação ofensiva”, declarou Antony Blinken em entrevista coletiva que encerrou uma reunião de ministros das Relações Exteriores do G7 na Itália.

Em outra conferência de imprensa, momentos antes de Blinken, o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Antonio Tajani, pontuou que os Estados Unidos foram “informados no último minuto”, mas não deu mais informações.

“A origem estrangeira do incidente não foi confirmada. Não recebemos nenhum ataque externo e a discussão pende mais para a infiltração do que para o ataque”, afirmou o alto funcionário iraniano à agência de notícias Reuters, sob condição de anonimato.

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