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Cientista de dados preso por engano ganha liberdade depois de 23 dias

Ele foi acusado de fazer parte de uma milícia e foi reconhecido por foto

Beatriz Duncan (sob supervisão)

Raoni encontra família na saída do presídio
Raoni encontra família na saída do presídio
Érico Carvalho

Angústia. É assim que o cientista de dados Raoni Lázaro Rocha Barbosa se refere aos 23 dias em que ficou preso por engano em um complexo penitenciário em Benfica, na Zona Norte do Rio. Ele foi solto nesta quinta-feira (09). O cientista foi confundido com Raony Ferreira dos Santos, que é acusado de fazer parte da milícia de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

A prisão temporária aconteceu no último dia 17 de agosto depois de um suposto reconhecimento facial em uma operação da Polícia Civil para reprimir grupos paramilitares. Ele foi apontado como sendo responsável por cobrar taxas de moradores e comerciantes de Caxias. A defesa afirma que Raoni nunca nem morou na região onde ele seria procurado.

"Houve erro no flagrante na identificação por fotografia, nas características dele (Raoni). Esse tipo de reconhecimento por fotos é muito questionável", afirma o advogado do cientista 


Segundo a Polícia Civil, uma sindicância interna está sendo instaurada para apurar o erro. A própria delegada que assinou a prisão do cientista, assinou também a soltura dele. A Polícia afirma ainda que a orientação atual é de que o reconhecimento fotográfico tem que ser apenas um dos elementos do inquérito e que não pode ser usado como único fator para a prisão de suspeitos.

"Eu vou correr atrás de todos os meus direitos para ter reparação. Eu sei que o tempo que eu passei preso eu não vou ter de volta mas a reparação pode ajudar para que outros não passem por isso que passei", afirma Raoni


Junto com o alívio da família, vem também o medo de Raoni de perder o emprego e ter outros transtornos por conta do ocorrido.

“A gente espera que ele seja inocentado. É o nosso maior objetivo agora”, contou a esposa de Raoni, Erica Armond


Segundo dados do Conselho Nacional das Defensoras e defensores públicos-gerais, de 2012 a 2020, foram ao menos 90 prisões injustas baseadas em reconhecimento por foto, sendo 73 no Rio de Janeiro. Desse total, cerca de 80% das pessoas eram negras.