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Da euforia à pressão: como Nyck de Vries foi dispensado pela AlphaTauri em dez corridas

Emanuel Colombari

Imagem: Getty Images/Red Bull Content Pool
Imagem: Getty Images/Red Bull Content Pool

Nyck de Vries não é mais piloto da AlphaTauri. O anúncio veio em um comunicado da equipe, que confirmou Daniel Ricciardo como o substituto para o restante da temporada, a partir do Grande Prêmio da Hungria.

Não é o primeiro piloto a ser dispensado de uma equipe de Fórmula 1 no decorrer de uma temporada. O processo não é raro, e nem imediato. Ao mesmo tempo, a dinâmica da categoria coloca prazos curtos para que os pilotos se provem, e as pressões sobre quem está começando – como era o caso do holandês da AlphaTauri – são sempre maiores.

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A chegada ao grid veio marcada por otimismo. Com os títulos da Fórmula 2 (2019) e da Fórmula E (2021), virou presença constante nas etapas da F1 em 2022, quando era piloto de testes da Mercedes. No GP da Espanha, participou de uma sessão de treinos livres com a Williams. Na França, veio uma sessão com a Mercedes. Na Itália, uma sessão com a Aston Martin.

Até que pintou uma vaga de última hora: Alexander Albon sentiu uma apendicite já em Monza e precisou ser operado. De Vries foi chamado de última hora para substituir o tailandês. Resultado: estreou conquistando o nono lugar no GP da Itália, igualando os melhores resultados da equipe no ano. Com tal cartão de visitas, foi catapultado ao topo da lista dos pilotos no mercado.

Especulado em vários times, assumiu uma vaga na AlphaTauri, que perdeu Pierre Gasly para a Alpine em 2023. A dúvida: chegava para ser primeiro piloto ou seria o escudeiro de Yuki Tsunoda? A temporada mostraria.

Mas a porta de entrada não foi das melhores. O AlphaTauri AT04, projetado pelo time de Jody Egginton, apresentou resultados sofríveis desde o começo. Nas cinco primeiras corridas, Tsunoda oscilou entre a 10ª e a 11ª posições, somando dois pontos; depois disso, os desempenhos pioraram.

No caso de De Vries, o quadro foi pior: 14º no Bahrein, 14º na Arábia Saudita, um acidente em uma relargada no fim na Austrália, um acidente prematuro no Azerbaijão, um 18º lugar em Miami...

Ainda que o carro não oferecesse condições competitivas, o holandês levava a pior diante do companheiro de equipe. Ainda superou Tsunoda em Mônaco (foi 12º, no melhor resultado, contra o 15º lugar do japonês), mas nunca mais se aproximou dos pontos. Foi 14º na Espanha, 18º no Canadá, 17º na Áustria (novamente à frente de Tsunoda) e 17º na Inglaterra.

Com dois pontos em dez corridas, a AlphaTauri virou a lanterna do Mundial de construtores, atrás de Alfa Romeo (nove), Haas (11) e Williams (11). De Vries era lanterna do Mundial de pilotos, atrás até de Logan Sargeant (Williams), que também não somou pontos em dez provas, mas que conquistou um 11º lugar em Silverstone.

Clima azedou

O primeiro sinal de crise na AlphaTauri veio antes do GP da Arábia Saudita, segunda etapa da temporada. Em entrevista coletiva, o chefe de equipe do time italiano, Franz Tost, afirmou que não confiava mais nos engenheiros responsáveis pelo carro.

“Os engenheiros estão me dizendo que faremos um bom progresso, mas eu não confio mais neles. Quero ver o tempo de volta, porque é a única coisa que importa”, disse Tost. “Durante os meses de inverno (na Europa, pré-temporada da F1), eles me disseram que o carro era fantástico, que fizemos um grande progresso. Então, fomos para o Bahrein e nada. O que eu deveria dizer?”, completou.

Em abril, Tost anunciou que deixaria a AlphaTauri no fim do ano. Para seu lugar, virá Laurent Mekies, que ocupa o posto de diretor esportivo da Ferrari.

Diante dos primeiros resultados ruins, Nyck de Vries passou a conviver com um fantasma: Daniel Ricciardo. Dispensado pela McLaren no fim de 2022, em baixa, o australiano voltou como piloto de testes em 2023 à Red Bull, onde foi acolhido com prestígio.

Em junho, veio uma pancada forte. Em entrevista a um podcast, Helmut Marko fez duras críticas ao desempenho de Nyck de Vries. Segundo o dirigente austríaco, o chefe de equipe da Red Bull não se mostrava muito animado com a possível chegada do piloto holandês antes da contratação.

Responsável direto pelas contratações de pilotos na Red Bull e na AlphaTauri, Marko disse que “às vezes” discorda de Horner. O plano A seria Mick Schumacher, dispensado pela Haas.

“No momento, parece que ele (Horner) estava certo. É claro que (a discussão) era sobre a AlphaTauri, e não sobre a Red Bull. Mas como somos uma família, pedi a opinião dele. E ele não era um grande fã de Nyck de Vries”, afirmou.

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Passado o GP da Inglaterra, Daniel Ricciardo permaneceu em Silverstone para testar pneus. Enquanto isso, em 11 de julho, o jornal holandês De Telegraaf destacou: Nyck de Vries estava fora da AlphaTauri.

“Embora o carro (da AlphaTauri) não seja competitivo nesta temporada e De Vries tenha apenas começado, não há mais confiança na direção de que ele possa reverter a situação”, descreve o jornal, citando os "resultados decepcionantes" como o principal motivo da decisão.

A informação havia sido confirmada com “várias fontes”, embora ainda não fosse oficial. Tornou-se oficial horas depois, quando a própria AlphaTauri anunciou a saída do holandês para a chegada de Daniel Ricciardo.

Dança das cadeiras

As trocas de pilotos se tornaram conhecidas da Red Bull e da AlphaTauri nas últimas duas décadas. Embora os títulos credenciem o time austríaco entre os maiores da história da Fórmula 1, a pressão nos assentos das duas esquadras é uma característica bastante conhecida.

O principal palco das trocas era a Toro Rosso, que virou AlphaTauri a partir de 2020. Desde que o time estreou em 2006, foram diversas mudanças de pilotos titulares no decorrer das temporadas. Nem todas foram produtivas, vale registrar.

A primeira veio em 2007, quando o norte-americano Scott Speed, em seu segundo ano, foi dispensado após dez corridas para dar lugar a Sebastian Vettel. Veio 2009, e o francês Sébatien Bourdais – também em seu segundo ano – perdeu o assento para o espanhol Jaime Alguersuari depois da nona etapa da temporada.

Em 2016, após quatro etapas, Max Verstappen deixou a Toro Rosso e foi para a Red Bull assumir a vaga de Daniil Kvyat – o russo foi rebaixado ao posto que era do holandês. Aí veio 2017, ano marcado por uma intensa troca de pilotos.

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O time-satélite começou o ano com Daniil Kvyat e Carlos Sainz, dupla que permaneceu junta (com bons resultados) por 14 corridas. Nos GPs de Malásia e Japão, sem Kvyat, a dupla teve Pierre Gasly e Carlos Sainz. No GP dos EUA, sem Sainz, alinharam Daniil Kvyat e Brendon Hartley. Nas três últimas provas, os escalados foram Pierre Gasly e Brendon Hartley.

Gasly e Hartley permaneceram em 2018, mas o francês foi promovido à Red Bull em 2019 para assumir a vaga de Daniel Ricciardo, agora na Renault. Só que durou 12 corridos e voltou para a Toro Rosso. O substituto era Alexander Albon, que estreava na Toro Rosso com bons resultados.

A partir daí, Red Bull e AlphaTauri viveram períodos de alguma paz. Desde 2020, nenhuma das escuderias trocava pilotos no decorrer do ano – calmaria que só foi quebrada em julho de 2023 com a saída de Nyck de Vries.

Emanuel Colombari

Emanuel Colombari é jornalista com experiência em redações desde 2006, com passagens por Gazeta Esportiva, Agora São Paulo, Terra e UOL. Já cobriu kart, Fórmula 3, GT3, Dakar, Sertões, Indy, Stock Car e Fórmula 1. Aqui, compartilha um olhar diferente sobre o que rola na F-1.