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Atleta mais rico da história ganhou mais de 11 bilhões de euros vencendo corridas

Emanuel Colombari

Atleta de quadriga (Imagem: Pixabay)
Atleta de quadriga (Imagem: Pixabay)

Uma lista divulgada pelo site Statista em setembro de 2023 colocou Michael Jordan como o atleta mais rico de todos os tempos, com um patrimônio acumulado de US$ 3,3 bilhões. O segundo colocado era Tiger Woods, contabilizando US$ 2,5 bilhões.

O primeiro do automobilismo na lista era Michael Schumacher, 11º colocado na classificação com US$ 1,3 bilhão – Lewis Hamilton, em 19º, somava US$ 790 milhões. O primeiro brasileiro era Neymar, 17º com US$ 860 milhões. A primeira mulher, Serena Williams, era apenas a 39ª colocada com US$ 600 milhões.

Mas talvez seja preciso voltar alguns séculos no tempo para incluir um nome importante nesta lista. Tão importante que destronaria Michael Jordan com folga no primeiro lugar.

No auge do Império Romano, o entretenimento já atraía multidões. O público dedicava especial atenção a gladiadores, atores, dançarinos e condutores de quadrigas – no caso, carroças que eram puxadas por quatro cavalos, posicionados lado a lado à frente do condutor, e que eram utilizadas em corridas. Imperadores como Nero (54-68) e Cômodo (176-192) eram apaixonados pelas corridas de quadrigas, que consistiam majoritariamente em sete voltas ao redor de uma pista, totalizando 2,7 milhas.

O principal destaque da modalidade nesta época era Caio Apulecio Diocles, um atleta que nasceu no ano 104 em Lamecum, então território do Império Romano que corresponde atualmente à cidade de Lamego, em Portugal. Começou a correr na juventude, incentivado pelo envolvimento do pai no ramo de transportes, e ganhou fama após vencer uma corrida em Lleida, atualmente território espanhol.

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Aos 18 anos, chegou ao Circo Máximo, em Roma, para competir com o nome de Lamecus, em homenagem à terra natal. Estreou pela equipe identificada com a cor branca (os albati), dando início de uma bem-sucedida trajetória de 24 anos, com 1.462 vitórias em 4.257 corridas. Defendeu ainda as equipes verdes (os prasini) e se aposentou pelos vermelhos (os russati).

A exemplo do que acontece hoje com automobilistas, os condutores de quadrigas também precisavam ter o preparo físico em dia. “O calendário romano contava com 66 dias nos quais as corridas eram disputadas, sendo que cada dia acomodava 16 ou 24 corridas, com um desfile cerimonial antes delas. Calcula-se, dos números de Diocles, que ele precisaria correr três vezes em cada dia durante sua carreira para alcançar o número de vitórias que alcançou. Ele sustentou este nível de competitividade durante um período de 24 anos, livre de lesões, e durante um período de tempo no qual ele entrou precocemente na meia idade com a diminuição dos reflexos. Seus feitos devem ser confrontados com inscrições registrando a morte prematura de carroceiros em acidentes, ou a aspirantes que nunca chegaram a tipos mais complexos (e lucrativos) de corridas”, descreve o segundo volume de Empire of the Romans: from Julius Caesar to Justinian, six hundred years of peace and war (em tradução livre, “Império dos romanos: de Júlio César a Justiniano, seiscentos anos de paz e guerra), livro lançado pelo historiador britânico John Matthews em 2021.

É possível afirmar que Caio Apuleio Diocles era um atleta vitorioso. Mas as vitórias se converteram em dinheiro? A resposta é: sim, e muito - ainda que seja difícil converter os pagamentos do atleta em valores atuais.

Anualmente, um soldado romano recebia o valor bruto de 900 sestércios, uma moeda de bronze da época cujo valor era de 1% do áureo, a moeda de ouro de maior valor da época. Na Roma Antiga, uma pessoa que queria uma vaga no Senado precisava acumular 1 milhão de sestércios em propriedades. Nas ocasiões mais rentáveis, registra-se que Diocles faturou até 60 mil sestércios por vitória.

Pesquisadores apontam que a carreira nas corridas rendeu ao português um valor de 35.863.120 de sestércios. O montante, segundo Peter Struck, professor de estudos clássicos da Universidade da Pensilvânia, poderia garantir o suprimento de grãos de toda a cidade de Roma por um ano. Em valores do século XXI, é possível calcular os vencimentos de Diocles em pelo menos 11 bilhões de euros, embora estimativas mais generosas falem em até 15 bilhões de euros.

Caio Apuleio Diocles se aposentou em 146, aos 42 anos, e tudo indica que morreu no mesmo ano em Praeneste (território equivalente à cidade italiana de Palestrina, nos arredores de Roma). Ganhou dos fãs um monumento em Roma que registra os feitos da carreira. Em 1830, a cidade de Lamego uma estátua sobre a Fonte Monumental, uma referência ao famoso atleta nascido por ali.

Emanuel Colombari

Emanuel Colombari é jornalista com experiência em redações desde 2006, com passagens por Gazeta Esportiva, Agora São Paulo, Terra e UOL. Já cobriu kart, Fórmula 3, GT3, Dakar, Sertões, Indy, Stock Car e Fórmula 1. Aqui, compartilha um olhar diferente sobre o que rola na F-1.