Jornal da Band

Bastidores políticos da lei áurea foram agitados e início da queda da monarquia

A República chegou ao fim pouco mais de um ano da assinatura da lei áurea e Dom Pedro II teve que deixar o país com a família real

Por Giba Smaniotto

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Reprodução

O reinado de dom Pedro II tinha 48 anos e o Brasil era o último país da américa a abolir a escravidão. No palácio, o monarca cidadão recebia abolicionistas para conversar, mas no trono cedia às pressões da elite que defendia que a economia brasileira não sobreviveria sem o trabalho escravo. 

“Havia uma relação de forças muito intensa dentro desse campo das elites, né? E porque havia necessidade de primeiro consolidar o Estado Nacional Brasileiro na década de 1840. Então essa consolidação foi feita a partir de uma conciliação”, afirmou Alessandra Bittencourt, historiadora.

 Quando a lei áurea foi assinada, no rio de janeiro, dom Pedro II passava por um dos momentos mais delicados de toda a vida dele. Na Europa, doente e acamado, resultado do diabete, ele soube da assinatura da lei sete dias depois do treze de maio.

Pedro II tornou-se príncipe regente aos 5 anos de idade, quando o pai, Pedro I, abdicou do trono e voltou para a Europa. Era a forma de garantir a continuidade da monarquia. Pedro II cresceu atento ao mundo. Foi amigo de grandes inventores como Graham Bell e visitou, como imperador, vários países.

 “Ele era um humanista. Ele não acreditava realmente em títulos como ele brinca com Princesa Isabel dos títulos, comendas etc. Ele gostava da pessoa pelo que ela sabia e o que ela podia acrescentar. Não só para ele, mas para o Brasil”, disse Paulo Rezutti, jornalista e escritor.

Mas, segundo os adversários, faltava a Pedro II apetite para governar e fazer política.

E essa é a coroa em ouro, mais de 600 brilhantes, 77 pérolas. Se ele reclamava da roupa que aparecia nos quadros, aquela roupa oficial, imagine da coroa. 2 quilos na cabeça.

Pedro II tinha muitos amigos abolicionistas, e com André Rebouças ele tinha longas conversas.

“O Rebouças tinha de fato uma grande admiração por Dom Pedro II, né? E uma amizade que foi se construindo nesses famosos passeios higiénicos, que era como ele chamava esses passeios de fim de tarde com o imperador, não é. Tem um episódio que eu acho muito interessante que o imperador falava para ele, "agora vamos conversar como como ianques", e os 2 botavam os pés em cima da mesa, né”, afirmou Maria Alice.

Entre os amigos, figura um que chamava atenção na época: Dom Obá. Caricato para alguns, mas com pensamentos profundos sobre o ser humano.

Dom Obá era neto de um imperador africano e reivindicava a coroa que tinha sido do avô. Dom obá nasceu livre na Bahia. Seu pai era um alforriado que adotou o nome do ex-senhor.

Dom Obá lutou como voluntário na guerra do Paraguai. Nas conversas com Dom Pedro, defendia a abolição.

Se dom Pedro II tinha sido um abolicionista convicto, desde muito jovem, então porque ele não acabou com a escravidão aproveitando o momento em que países, do mundo inteiro, estavam fazendo isso? Pedidos de amigos próximos não faltaram.

A abolição foi comemorada nas ruas. Foi criada até uma guarda negra para defender a Princesa Isabel, mas a monarquia perdeu apoio dos setores mais poderosos. 

A República chegou ao fim pouco mais de um ano da assinatura da lei áurea e Dom Pedro II teve que deixar o país com a família real. Morreu aos 66 anos, exilado na França. Joaquim Nabuco, um dos líderes da campanha contra a escravidão escreveu: 

“Dom Pedro II será julgado pela história. Ao estadista hão de ser tomadas estreitas contas da existência da escravidão ilegal e criminosa, depois de um reinado de quase meio século”.

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