Jornal da Band

Fim da escravidão não veio só das mãos de Isabel: conheça figuras da abolição

Apesar de histórica e importante, quando a Lei Áurea foi assinada, 95% dos escravizados já haviam conquistado a liberdade

Por Giba Smaniotto

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Reprodução

O fim da escravidão no Brasil, é marcado e simbolizado pela assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, em 13 de maio de 1888. Mas a abolição da escravatura é uma luta que durou muito tempo, com o esforço dos abolicionistas e dos movimentos populares. 

Quando a Lei Áurea foi assinada, 95% dos escravizados já tinham conquistado a liberdade. A historiadora Ynaê Lopes dos Santos pontua que onde teve escravidão, houve a resistência contra ela. “Então, a fuga, a formação de quilombos, ela atravessa toda a história do Brasil, é constitutiva da história brasileira, sobretudo durante a vigência da escravidão”, explica. 

A vitória definitiva contra a escravidão veio naquele 13 de maio de 1888. Na cerimônia da assinatura da Lei Áurea, alguns dos principais líderes da luta estavam presentes. Desde 1860, 28 anos antes da assinatura, os abolicionistas levaram para as ruas a campanha pelo fim da escravidão. 

Abolição teve personagens importantes além da Princesa Isabel 

André Rebouças, José do Patrocínio, Joaquim Nabuco. Entre muitos abolicionistas, esses três personagens fizeram de tudo para se aproximar da família real e trazer o fim da escravidão. 

Os três, que defendiam a causa com convicção, usavam todas as estratégias para conseguir a abolição. Uma das cartadas para o fim da escravidão foi convencer a Princesa Isabel a assinar a Lei Áurea, após a Câmara e o Senado aprovarem o projeto, como explica a historiadora Maria Alice Rezende de Carvalho. 

“A costura já tinha sido feita, com os abolicionistas. E Isabel foi sendo de alguma forma trazida para essa perspectiva”, avalia a historiadora. Para a também historiadora Ynaê Lopes, o abolicionismo é “o primeiro grande movimento social do Brasil”. 

Quando a opinião pública brasileira se organiza em torno de uma causa, a Princesa Isabel jogou um papel, porque o teatro de operações já estava dado - diz Maria Alice. 

José do Patrocínio, Joaquim Nabuco e André Rebouças foram decisivos no 13 de maio de 1888. Quando Patrocínio viu a chance da abolição nas mãos da princesa, ele deixou de defender a República e apoiou a continuidade da Monarquia, já Joaquim Nabuco viajou pelo mundo em busca de apoio para a causa abolicionista. 

Para se ter uma ideia, foi apenas após a visita de Nabuco ao Papa que o pontífice se pronunciou contra a escravidão, como indica a historiadora Hebe Mattos. “Isso teve uma repercussão enorme, e o Papa mandou uma rosa de ouro para Isabel após o 13 de maio”, diz. 

André Rebouças, por sua vez, foi o grande articulador. Ele foi fundamental na minuta da Lei Áurea, que trazia uma de suas principais bandeiras. “Ele queria a abolição sem indenização aos senhores de engenho, porque eles denunciavam muito fortemente que a escravidão já era ilegal no Brasil para todos os africanos contrabandeados”, explica Hebe. 

Da celebração à decepção com Lei Áurea

Machado de Assis relatou celebração do fim da escravidão | Reprodução/Band

Após o 13 de maio e a assinatura, uma multidão se aglomerou no Largo do Paço para celebrar a nova lei. O escritor Machado de Assis descreveu o momento histórico:

Houve sol, e grande sol, naquele domingo de 1888, em que o Senado votou a Lei que a Regente sancionou. E todos saímos à rua, todos respiravam felicidade. Foi o único dia de delírio público que me lembro ter visto. 

Mas, para André Rebouças, a festa foi substituída pela decepção nos dias seguintes, como afirma Hebe Mattos. “Ele se frustrou porque quando eles vencem em maio, ele acha que vai vir ações efetivas de educação de libertos, terras e medidas para democratizar a propriedade rural. Nada disso vem, eles em três meses perceberam que não seria bem assim”, explica. 

Ynaê pontua que o 13 de maio foi apenas um fechamento de um ciclo. “É preciso contar cada vez mais nas escolas isso. O ciclo só foi possível porque homens e mulheres negros, escravizados, livres e libertos, colocaram sua vida em risco em nome do fim da escravidão”, diz. 

Assista ao primeiro episódio da série sobre abolição da escravatura:

Confira o segundo episódio:

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